
“Estamos num vértice e num momento único de aceleração”

Organizações pedem rapidez, legislação ágil e incentivos fiscais para facilitar medidas de transição energética. O repto foi lançado esta manhã ao Governo na sessão da EDP na Portugal Mobi Summit.
“Estamos num vértice e num momento único de aceleração” para a transição energética, não só pelas alterações climáticas mas também devido ao conflito na Ucrânia, que demonstrou a elevada dependência da Europa face ao gás e outros recursos e a urgência de mudar. E essa transição não só “faz sentido”, como “é rentável”, assegura Miguel Fonseca, administrador da EDP comercial, que falava esta quinta-feira no debate “Como acelerar a transição energética das empresas?”, no Portugal Mobi Summit.
Miguel Fonseca diz que “as empresas sustentáveis entram num leque vertiginoso de impactos”, com projetos altamente rentáveis e atraindo talentos, clientes e investidores. “80% dos investidores hoje em dia tomam critérios de sustentabilidade, de rating dos seus investimentos, para alocarem capital” e até os trabalhadores e clientes tomam isso em consideração nas empresas.
Com vista à transição energética, a EDP procura ver com as empresas uma hierarquia de investimentos e tecnologias nos quais apostar, sendo que o primeiro passa pelo autoconsumo. “Como produzo energia na minha própria empresa de maneira mais rentável do que aquela que consigo comprar à minha comercializadora. As taxas de retorno deste tipo de investimento hoje em dia andam na ordem dos 25 a 40%”, ou seja, “consigo recuperar o investimento que faço num prazo de quatro a seis anos em Portugal”, explica o administrador da EDP Comercial.
Para acelerar essa transição é necessário, porém, que "as entidades competentes e o Governo" sejam “mais rápidos nos licenciamentos” e a dar “incentivos fiscais” para ajudar a que grandes organizações possam implementar medidas, defendeu Pedro Félix, diretor de instalações no Sport Lisboa e Benfica.
Há um mês arrancou um projeto, no valor de cerca de um milhão de euros, que visa “tornar o estádio inteligente” nos próximos cinco anos, avançou Pedro Félix. Através da gestão técnica centralizada e sensores pretendem acabar com iluminação acesa constantemente sem necessidade, controlar a temperatura e outras ações de poupança. “Estimamos que no fim deste projeto implementado vamos poupar cerca de 30% de energia”.
Pedro Vasconcellos, diretor ESG da Nhood Portugal, empresa que possui uma plataforma de soluções de serviços imobiliários, alerta que é necessário que a legislação acompanhe as mudanças, apontando um caso concreto que é preciso simplificar. Quanto aos painéis solares, “algumas câmaras têm o entendimento que é zona construída, pelo que se perde área de construção”, mas noutras não conta, refere.
Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador do grupo holeteiro Vila Galé - que possui painéis solares em algumas unidades, veículos elétricos e carregadores - considera que as empresas devem usar a sua capacidade de influência para induzir mudanças em vários eixos, abrangendo tantos medidas de gestão empresarial como comportamentos de colaboradores e clientes. Podem ser coisas simples, como a duração de banhos ou o uso de ar condicionado. “Não vão existir soluções milagrosas, não vai ser uma tecnologia revolucionária, é um conjunto de micro medidas em diferentes áreas que vão fazer a diferença”, sustenta.