Lisboa poupa 2 milhões com lâmpadas LED e financia painéis solares aos moradores

2022
07-09-2022

Carlos Moedas prometeu e o projeto arranca este ano. Primeiro substituem-se 16 000 luminárias por lâmpadas LED que vão poupar 70% em eletricidade e dois milhões de euros. A autarquia vai ainda dar apoio financeiro aos residentes para instalarem painéis solares.

É a luz ao fundo do túnel para várias cidades inteligentes, apostadas na poupança energética: substituição da iluminação pública por sistemas amigos do ambiente. Em Nova Iorque e outras metrópoles mundiais já começou há uns anos, em Lisboa, uma das urbes da rede C40 das cidades inteligentes, vai arrancar em breve. A autarquia presidida pelo social-democrata Carlos Moedas iniciou este ano o desenvolvimento de uma solução para a melhoria da eficiência energética de toda a rede de Iluminação Pública de Lisboa, que “passa pela substituição das atuais luminárias de tecnologias antigas e ineficientes, por outras de LED, com regulação de fluxo e controladas de forma centralizada através de uma plataforma de gestão inteligente”, respondeu o gabinete de comunicação do autarca ao Portugal Mobi Summit.

Este trabalho está em curso e tem o apoio técnico da Lisboa E-Nova, Agência de Energia e Ambiente de Lisboa. A rede de iluminação pública de Lisboa possui cerca de 72 000 luminárias, das quais um número reduzido são LED. “De imediato arrancará a 1ª fase com a intervenção em 16 000 luminárias em diferentes zonas da cidade. Este conjunto de luminárias foi selecionado por permitir uma substituição direta, ou quase direta, que não implica intervenções mais complexas, como por exemplo trabalhos na rede de distribuição de eletricidade na via pública”.

Segundo avançou o gabinete do presidente da Câmara, esta medida poderá vir a ser concretizada através da celebração de um contrato de gestão de eficiência energética com uma empresa de serviços de energia, ao abrigo do decreto-lei n.º 50/2021 de 15 de junho. O processo deverá ser lançado no último trimestre do ano.  

“A poupança mínima garantida do consumo de eletricidade com a intervenção de substituição destas 16 000 luminárias será de 70%, a qual se traduzirá numa redução anual com o custo da eletricidade de 2 milhões de euros”, de acordo com as contas feitas pelo gabinete de Carlos Moedas.  

Estas luminárias serão comandadas por um sistema de gestão inteligente, baseado numa plataforma informática, compatível com as ferramentas de gestão urbana já existentes. 

Ainda este ano serão estruturadas tecnicamente e calendarizadas as fases subsequentes de intervenção na restante rede, contemplando a substituição de todas as luminárias por LED. “A rede de iluminação pública de Lisboa é a mais antiga do país e devido a questões de natureza técnica e operacional, deve ser requalificada faseadamente”, explica a autarquia.

CML vai financiar energia solar em casas

Para além das mudanças na iluminação pública obsoleta, a estratégia que a Câmara Municipal de Lisboa vai seguir para atingir a neutralidade climática passa também pela redução dos consumos de energia, através da eficiência energética – “um aspeto agora muito atual por via da incerteza e insegurança no abastecimento de energia resultante da guerra na Ucrânia, agravado pela seca”, como sublinha o gabinete de Moedas.

Ou seja, será uma aposta na geração local da eletricidade necessária para o funcionamento da cidade. E o que é que a capital portuguesa tem que outras metrópoles não têm? Sol, muito sol. “Ao contrário de outras cidades europeias, Lisboa recebe uma radiação solar muito relevante. Lisboa é a 3ª capital europeia com com mais horas de sol (quase 3 mil horas por ano). Considerando que a radiação solar incidente é cerca de 7 vezes a eletricidade consumida na cidade e que 44% dos telhados têm boa exposição solar, Lisboa consegue gerar um volume de eletricidade fotovoltaica para suprir cerca de 90% das suas necessidades”, explicou o gabinete de comunicação da presidência da Câmara.

A autarquia está disposta a incentivar financeiramente os residentes de Lisboa para ser aproveitado o potencial solar da cidade. “Está a ser concebido um mecanismo para apoiar financeiramente os munícipes na instalação de sistemas fotovoltaicos nas coberturas das suas habitações, mas que também poderá financiar medidas de eficiência energética nos edifícios, para a melhoria do desempenho da envolvente e para a instalação de equipamentos eficientes”.

Em complemento, e para cobrir a vertente de informação e comunicação, está a ser também criado um serviço de apoio ao munícipe, para o guiar e esclarecer em relação às melhores opções de eficiência energética e de geração local de energia renovável – uma “Loja do Clima/Energia”. 

No âmbito da sua participação na rede C40 – uma rede de presidentes de Câmara de cidades que lideram a ação climática mundial e que colaboram no sentido de combater e mitigar a crise climática – Lisboa definiu um Plano de Ação Climática, que contempla um conjunto de medidas em diferentes eixos de atuação, com o objetivo de alcançar a neutralidade climática em 2050.

“A seleção de Lisboa como uma das 100 Cidades Inteligentes e Climaticamente Neutras até 2030, no âmbito da Missão Cidades da Comissão Europeia, conhecida em Abril de 2022, obriga a um realinhamento das medidas a concretizar, para antecipar para 2030 o prazo de 2050, inicialmente previsto no Plano de Ação Climática”, destaca o gabinete de Carlos Moedas.

A autarquia lembra que a meta ambiciosa da neutralidade climática em 2030 implica a mobilização de todos – Câmara, munícipes, empresas, sociedade civil – “porque a CML é responsável por apenas 4% do consumo de energia da cidade”.

“É este trabalho de envolvimento coletivo de toda a cidade que permitirá acelerar a transição energética para uma comunidade neutra em carbono. O primeiro “Conselho dos Cidadãos” dedicado à Alterações Climáticas, foi um primeiro passo”, frisa a presidência da Câmara.

Transportes representam 50% das emissões

Segundo a maior autarquia do país, o setor dos transportes representa cerca de 50% do consumo de energia e das emissões de CO2 na cidade de Lisboa.  

“Perante este cenário, é incontornável que qualquer plano de eficiência energética, para a descarbonização da cidade, como o Plano de Ação Climática 2030 ou o Contrato Climático a celebrar no âmbito da Missão para as 100 Cidades Inteligentes e Climaticamente Neutras até 2030, que Lisboa integra, atue sobre o setor dos transportes”.

A aposta na descarbonização deste setor passa por transferir viagens atualmente realizadas em modos de transporte pouco eficientes em termos energéticos e carbónicos, para o transporte público e modos suaves, ao mesmo tempo que se aposta no uso de veículos neutros em carbono.

“Estes podem ser veículos elétricos, alimentados por eletricidade renovável, gerada localmente, ou por veículos movidos a combustíveis ou gases descarbonizados, onde se inclui o chamado “hidrogénio verde”, ou o metano (biogás descarbonizado) oriundo de ETAR’s, por exemplo”, destaca a assessoria de Carlos Moedas.

“A aposta da CML tem sido no sentido da eletrificação da sua frota e no uso do gás natural, que pode ser futuramente substituído por biogás descarbonizado, numa lógica de circularidade e de valorização energética de um subproduto do tratamento das águas residuais da cidade”. Mas poderão também vir a ser realizados pilotos com “hidrogénio verde”, cuja produção pode até ser efetuada localmente, a partir de eletricidade fotovoltaica produzida na cidade, adianta a autarquia. “Está a ser ponderada a inclusão desta medida no já referido Contrato Climático, a celebrar no âmbito da Missão para as 100 Cidades Inteligentes e Climaticamente Neutras até 2030, que Lisboa integra”.

Redes inteligentes para uso de energia

E a CML pretende usar as redes inteligentes para regular automaticamente a oferta e a procura de energia nos edifícios públicos? O gabinete de Carlos Moedas explicou que a gestão e operação da rede de distribuição de eletricidade em baixa tensão (que é propriedade dos municípios) foi concessionada à atual E-REDES, por um período de 20 anos. 

“O processo de preparação das futuras concessões da rede tem sofrido muitas vicissitudes por parte do governo, que originaram um atraso significativo no seu lançamento, face aos prazos inicialmente estabelecidos, não estando ainda definido o modelo a adotar, a abrangência geográfica da concessão, entre outros aspetos”.

O lado positivo é que “a rede de distribuição possui atualmente valências e capacidades que há 20 anos atrás não existiam”. Por exemplo, a capacidade para transportar dados recolhidos por uma rede de sensores localizados no território referentes a uma miríade de verticais, que permite apoiar um sistema de gestão da cidade em tempo real.

“Esta questão está a ser trabalhada pela CML, com o apoio técnico da Lisboa E-Nova, no contexto da criação de comunidades de energia renovável ou de auto-consumos coletivos, baseados em produção fotovoltaica, cujos fluxos de eletricidade entre os diferentes membros utilizarão a rede pública. Ao longo do próximo ano (2023), espera-se poder concretizar algumas destas iniciativas”.

Como lembrou o presidente da Câmara, Carlos Moedas, no debate inaugural do Portugal Mobi Summit 2022, este é “um momento de oportunidades no setor da transformação energética. Hoje, a nível europeu, na produção automóvel trabalham dois milhões de pessoas enquanto há seis milhões a trabalhar nas indústrias verdes e de transformação”.
“

É sobretudo uma oportunidade para as cidades, que são as que podem implementar essa transformação” com vista à neutralidade carbónica em 2030.
Carlos Moedas lembrou que “os cidadãos estão perdidos” e com outras prioridades e que é preciso mudar a narrativa para que esta chegue a todos. “Transição energética é poupar. Quando o cidadão ouve que em Lisboa vamos mudar as lâmpadas luminárias para lâmpadas LED, percebe porque é uma energia que poupa 80% do que gastávamos anteriormente”, exemplificou. Afinal, são mudanças amigas do ambiente e do bolso do cidadão contribuinte. 

Rute Coelho

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