
Nova ordem mundial é “oportunidade” para a transição energética

A guerra na Europa e a crise energética poderão acelerar o caminho para a autosuficiência portuguesa e europeia em energias renováveis, concordaram os autarcas de Lisboa e Cascais e os líderes da EDP Comercial, Brisa, Lidl, e Fidelidade, no debate do Portugal Mobi Summit
Em plena guerra na Ucrânia e com o preço dos combustíveis e da energia a disparar, esta crise não deve ser vista como uma ameaça mas antes como uma “rutura” em direção a um novo caminho, o da independência energética através da aposta nas energias verdes e renováveis. “Oportunidade” foi a palavra mais dita no debate do Portugal Mobi Summit (PMS) e que sentou à mesma mesa, no edifício do Museu da Eletricidade, em Lisboa, os autarcas de Lisboa e Cascais e líderes das empresas EDP Comercial, Brisa, Lidl, e Fidelidade, parceiros do PMS.
Quando se fala de energia fala-se das soluções da elétrica portuguesa. Vera Pinto Pereira, CEO da EDP Comercial, lembrou que globalmente, neste período recente, as vendas de automóveis elétricos duplicaram: “Em Portugal estamos entre os 10 países europeus com maior penetração de veículos elétricos (VE)/híbridos a nível de novos veículos vendidos. Recentemente, os elétricos ultrapassaram os híbridos nesta parcela, nestes 22%, o que é um bom sinal”.
A CEO da EDP Comercial também anunciou uma revisão de preços em baixa para as tarifas de carregamento já para este mês: "Revimos para julho as tarifas de carregamento numa redução de 15% dos preços".
“Temos hoje uma rede hoje de 4000 pontos de carregamento a nível nacional o que dá uma cobertura muito expressiva do território, considerada boa a nível europeu e o número de utilizadores desta rede aumentou mais de 60% nos últimos meses”, destacou Vera Pinto Pereira, acrescentando que a EDP cresceu em 2021 mais do que nunca em termos de rede de carregamento público.
“Temos hoje mais de 1200 pontos de carregamento público. Os 48 nas 17 áreas de serviço das autoestradas da Brisa estão todos a funcionar. E temos feito trabalho ativo para expandir a rede”, frisou, sem deixar de referir que “os apoios públicos às redes de carregamentos são muito importantes”. Em Espanha, sublinhou, foi publicado um novo decreto lei que obriga a ter um ponto de carregamento por cada 40 lugares de estacionamento em qualquer local público. “Em Espanha 10 a 15% do financiamento do carregamento vem por vias públicas”.
Também o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, entende que este é “um momento de oportunidades no setor da transformação energética. Hoje, a nível europeu, na produção automóvel trabalham dois milhões de pessoas enquanto há seis milhões a trabalhar nas indústrias verdes e de transformação”.
“É sobretudo uma oportunidade para as cidades, que são as que podem implementar essa transformação” com vista à neutralidade carbónica em 2030.
Carlos Moedas lembrou que “os cidadãos estão perdidos” e com outras prioridades e que é preciso mudar a narrativa para que esta chegue a todos.
“Transição energética é poupar. Quando o cidadão ouve que em Lisboa vamos mudar as lâmpadas luminárias para lâmpadas LED, percebe porque é uma energia que poupa 80% do que gastávamos anteriormente”, exemplificou o autarca de Lisboa.
A propósito dos pontos de carregamento nas autoestradas da Brisa, o CEO da empresa, António Pires de Lima, também aproveitou para fazer “um apelo às autoridades públicas para serem céleres e licenciarem os equipamentos que outras empresas energéticas já têm nas nossas áreas de serviço das autoestradas”. Pires de Lima referiu que “a Brisa foi primeira rede de autoestradas a nível nacional, em parceria com empresas privadas como a EDP, a permitir que os VE possam fazer a viagem nas nossas autoestradas sem ansiedades, podendo parar nas áreas de serviço para em 10 a 15 minutos carregarem e seguir viagem”.
E anunciou que a Brisa está a “investir num projeto para dotar as nossas autoestradas de energia fotovoltaica para que até ao final de 2024 a operação das nossas autoestradas seja autosuficiente do ponto de vista energético”.
Pedro Rebocho, Administrador de Infraestruturas do Lidl Portugal também destacou que o grupo tem “100 lojas modernizadas com carregadores, de norte a sul e de oeste até Espanha”.
EDP explica o que se poupa com os elétricos
A presidente da EDP Comercial, Vera Pinto Pereira, puxou dos números para sublinhar o que se poupa quando se opta por um veículo elétrico (VE): “Carregarmos 100 km um veículo elétrico pode custar cerca de 2 euros em casa, até aos 7 euros numa rede de carregamento público mas pode custar 10 a 12 euros se estivermos a falar num veiculo a combustível”.
De novas formas de mobilidade e de energias verdes percebe Cascais, autarquia pioneira em transportes públicos gratuitos para todos os residentes, autocarros movidos a hidrogénio e corredores ecológicos. Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais, lembrou que as autarquias são ágeis mas que a transição energética “depende da velocidade de decisão ao nível do Governo central”. Este “novo mundo tem a ver com a energia mais renovável de todas que é a da criatividade. Haja vontade politica”, realçou Carreiras.
O comboio para a transição energética vai mudar até os modelos de negócio de setores como as seguradoras automóveis. O presidente da Comissão Executiva da Fidelidade Companhia de Seguros SA, Rogério Campos Henriques revelou que a companhia “está a desenvolver soluções para que os clientes adiram, de forma segura e responsável, às novas formas de mobilidade suave” (trotinetas, bicicletas, entre outras).
Já a intervenção da cadeia de supermercados Lidl está a ser feita com novos investimentos na frota de distribuição. “Estamos a fazer testes com seis camiões a gás, é uma tecnologia nova, mas contamos até ao final do ano ter mais uma alternativa energética”, revelou Pedro Rebocho. “A nossa frota de 700 viaturas está a ser alterada, já estamos com carros híbridos e no próximo ano vão-nos entregar os primeiros carros totalmente elétricos ao próprios colaboradores”. O Lidl expandiu para a Madeira, “onde no 2º semestre de 2023 toda a frota será elétrica”, concluiu o Administrador de Infraestruturas do Lidl Portugal.
Rute Coelho