
"A mobilidade elétrica tem de ser mais conveniente e dramaticamente mais barata"

Vera Pinto Pereira, CEO da EDP Comercial, e Uri Levine, fundador da Waze, falaram de como descongestionar as cidades e deixar de gastar 150 horas por ano no trânsito. A transição para uma mobilidade mais sustentável também assenta na inovação e no empreendedorismo, área em que Levine dá cartas, com 13 startups.
"Passamos 150 horas por ano no trânsito, o tempo que demora a ler 30 livros, ou seja, seriamos mais espertos sem engarrafamentos". Foi com este retrato da vida moderna nas cidades, onde vive 60% da população, que Vera Pinto Pereira abriu a conversa em palco com o empresário israelita Uri Levine, fundador da Waze, em torno do tema "A inovação como catalisador de mudança", na manhã da Cimeira de Cascais do Portugal Mobi Summit.
A aplicação da Waze que orienta as viagens de 750 milhões de utilizadores em todo o mundo "não resolve o problema dos congestionamentos de tráfego, mas traz alguma paz mental" e, como reconheceu a CEO da EDP Comercial, tal não seria possível sem o espírito de inovação e empreeendedorismo. O mesmo que levou Uri Levine a criar uma das app mais famosas do mundo. Porquê? "Quando não estás preso no trânsito crias mais valor para todos; por outro lado, perder 150 horas por ano no carro tem um impacto negativo no mundo", disse o empresário.
Questionado por Vera Pinto Pereira sobre como antevê o futuro da mobilidade elétrica, Uri Levine considerou que "tem de ser mais conveniente para o utilizador e dramaticamente mais barata". Quanto ao receio, até aqui muito real, de se ficar sem bateria a meio do caminho, Levine considera que daqui a poucos anos, o carregamento já não será um tema, pois haverão carregadores suficientes.
Mas, lembra, "a eletrificação reduz a poluição, mas não resolve o problema do congestionamento". O empresário responsável pela criação de mais de uma dúzia de start-ups acredita realmente que "as pessoas não vão mudar os seus comportamentos só pelo bem do Planeta, mas se lhes for conveniente e barato". E por isso, a importância também da política fiscal e da legislação no geral. Por outro lado, aponta, "é preciso criar o desejo" - foi o que fizeram Steve Jobs com o Mac e Elon Musk com o Tesla.
O autor do livro "Fall in love with the problem - not the solution" defende que existam nas cidades mais vias destinadas a transportes públicos ou de utilização partilhada, porque, diz, a solução do congestionamento não está no Uber nem no carro autónomo.
Sobre a questão concreta do carregamento, Levine defende uma solução criativa. Pode criar-se uma rede de pessoas que estejam disponíveis a partilhar os pontos de carregamento entre elas e criar pequenas comunidades, tal como se criam grupos por whatsapp. Isso contribuiria para reduzir a ansiedade de ficar sem energia, diz.
Enquanto criador nato de start-ups, Levine respondeu a Vera Pinto Pereira sobre qual a melhor maneira de levar a inovação de start-ups para dentro de uma grande corporação como a EDP, presente em vários pontos do globo. Resposta: "ligar-se a start-ups que podem trazer valor à empresa e investir nelas, porque se elas forem bem sucedidas vocês vão ser bem sucedidos. A corporação não tem necessariamente de construir o produto, mas a infraestrutura".
Sobre o espírito empreendedor que leva à inovação, Levine não se cansa de enfatizar que é parecido com o estar apaixonado, não conseguimos desfocar, e, quando nos dizem que não é boa ideia, não acreditamos e vamos em frente até conseguir, falhando muitas vezes, até conseguir. Mas é preciso não ter medo de falhar. E é importante ensinar as crianças a não terem medo de falhar.
Como exemplos aponta empresas como a Netflix ou a Amazon, que já têm 25 anos, ou a Tesla e o Facebook, com 15 anos. Várias empresas demoram seis anos ou mais até serem conhecidas.
Desafiado pela administradora executiva da EDP a antever a cidade em 2050, Uri Levine, considera que, apesar da transição para a mobilidade elétrica nos proporcionar um ar menos poluído, o importante é mudar o paradigma do carro individual para o partilhado. De outro modo o congestionamento poderá asinda ser mais severo, à medida que se prevê um crescimento da população em torno das grandes cidades que vão tornar-se mega metrópoles.