Alemanha insiste nos transportes baratos

2023
04-08-2023

Introdução de passe nacional de 49 euros aumentou em 25% o uso da fragmentada rede pública alemã. Programa tem custos altos, mas vai poupar energia e minorar a inflação.

As autoridades alemãs já consideram que foi um grande êxito a introdução do passe de 49 euros que permite viajar em todos os transportes do país, a nível regional e local. Os primeiros números apontam para um aumento de 25% no número de passageiros que utilizaram os serviços de transportes públicos. O passe está em vigor desde maio e já foi adquirido por 9,6 milhões de alemães.

O esquema tem diversas vantagens e um problema de custo. O sistema de transportes na Alemanha está fragmentado e o novo passe permite simplificar a utilização dos serviços. Muitos alemães pagavam centenas de euros mensais para trabalhar, a despesa torna-se agora muito menor. O preço reduzido do passe é um grande incentivo ao maior uso da rede pública, o que levará muitos utilizadores e dispensarem o uso de automóveis.

O benefício ambiental é evidente, sendo aliás o motivo principal da iniciativa: o passe nacional representa poupanças imediatas nas emissões de gases com efeito de estufa, aproximando a Alemanha do cumprimento das metas vinculativas de redução destas emissões.

O novo passe barato permite utilizar comboios regionais, metropolitano, autocarros, mas não inclui as maiores distâncias e quem quiser usar lugares de primeira classe terá de pagar mais. A experiência permite estudar as futuras estruturas de tarifas simplificadas, mas existe o problema dos custos elevados. Calcula-se que o sistema possa custar pelo menos 3 mil milhões de euros até 2025, o que motivou uma longa negociação entre o Berlim e os estados federais, tendo o governo prometido pagar metade da conta, cabendo a outra metade aos estados.  

No ano passado, entre junho e agosto, a Alemanha lançou uma experiência inovadora, criando um passe mensal de apenas 9 euros, que permitia viajar nos comboios do país tanto quanto as pessoas quisessem. Venderam-se 52 milhões destes bilhetes, mas os custos foram demasiado altos, tendo o Governo financiado o projecto com um subsídio de 2,5 mil milhões de euros. Segundo os cálculos das autoridades alemãs, foram feitas cerca de mil milhões de viagens com este passe e poupados 1,8 milhões de toneladas de CO2.

O programa de 9 euros surgiu numa altura em que a Alemanha se confrontava com as consequências económicas da Guerra da Ucrânia. Foi fácil convencer o público de que era necessário recorrer a uma forma de transporte mais sustentável e menos dependente do petróleo russo. Por isso, o passe de 9 euros foi extremamente popular, serviu para minorar o surto de inflação e convenceu muitas pessoas a mudarem para o transporte ferroviário, apesar das infraestruturas estarem de alguma maneira em mau estado (para os padrões alemães) e haver frequentes atrasos no serviço.  

O atual preço deverá contribuir para a redução das emissões de gases com efeito de estufa, mas pode revelar-se também insustentável, sobretudo se for ultrapassado o valor de 3 mil milhões de euros de custos. A ideia de reduzir as tarifas dos transportes públicos é popular no país e no interior do governo alemão (que inclui três partidos), no entanto o ministro das Finanças, Christian Lindner, opôs-se à repetição do preço de 2022. A fatura de manter o passe reduzido poderia subir para 14 mil milhões de euros anuais, obrigando a cortar outros programas. O custo final de 49 euros é um compromisso.

Luís Naves 

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