António Louro: “Europa precisa de 50 mil postos de carregamento para camiões elétricos”

2023
19-10-2023

A eletrificação das frotas de transporte de mercadorias está a ser atrasada na União Europeia pela escassez de postos de carregamento, explicou António Louro, o diretor-geral da Daimler Trucks Portugal, numa entrevista Portugal Mobi Summit.

Para o setor dos transportes de longo curso cumprir as metas da União Europeia na redução de emissões de gases com efeitos de estufa, terá de haver na Europa pelo menos 50 mil postos de carregamento para camiões elétricos e 700 para camiões movidos a hidrogénio. Este número foi adiantado pelo diretor-geral da Daimler Trucks Portugal. A entrevista foi conduzida por Paulo Tavares, curador editorial da Mobi Summit. Para o responsável da empresa de veículos pesados da marca Mercedes-Benz, o maior obstáculo à eletrificação mais rápida dos transportes está na insuficiente infraestrutura de carregamento.

"Queremos ser líderes no transporte sustentável", disse António Louro. Desde 2021, a sua companhia tem modelos totalmente elétricos, que circulam nas cidades portuguesas sem emissões ou ruído. Há soluções disponíveis no segmento do pequeno e médio curso, mas a fraca infraestrutura dificulta a eletrificação mais rápida do longo curso. Muito recentemente, foi lançado na Alemanha um novo veículo, Actros 600, um camião totalmente elétrico com autonomia até 500 quilómetros e que pode carregar a bateria até 80% em 30 minutos.
  
"A Daimler Trucks está comprometida com os Acordos de Paris e com a redução das emissões, que visam alcançar em 2050 a neutralidade total em CO2. Queremos atingir esse passo já em 2030". Segundo este responsável, a empresa pretende que dentro de sete anos, pelos menos 60% dos seus camiões vendidos sejam elétricos ou com tecnologia elétrica, incluindo hidrogénio. "Isto não se vai fazer de um dia para o outro", reconheceu António Louro, ao sublinhar que há pressões dos clientes das empresas transportadoras para que o setor reduza o seu impacto nas emissões de gases com efeito de estufa.

Há três elementos associados à transição, explicou António Louro: “O produto, depois a infraestrutura, a terceira componente é a paridade de custos, ou seja, uma solução economicamente viável. O produto já existe, investimos muito em investigação e desenvolvimento. A paridade de custos pode ser atingida de forma relativamente rápida". O problema está na terceira parte da equação, havendo a analogia com uma multiplicação: se um dos fatores for zero, o resultado é nulo.

"A componente mais difícil desta equação é a infraestrutura", disse António Louro. "Ela não se faz de um dia para o outro. Tem de ser planeada, construída, é preciso escolher os locais certos”, levando em conta a autonomia e permitindo que os “transportes de longo curso tenham soluções de carregamento ao longo dessa rota". A rede existente está desenhada para veículos ligeiros, não para camiões que precisam de quantidades maiores de energia. "Que eu saiba, não existe neste momento uma infraestrutura pública elétrica para veículos pesados, até porque exigem carga muito acima das viaturas ligeiras", adiantou António Louro.

Na opinião do responsável da Daimler Trucks Portugal, será essencial "incentivo público" para esta tecnologia e apoios estatais para que "as próprias empresas de transportes tenham possibilidade de desenvolver soluções de carregamento, ou seja, uma empresa de transportes criar um sistema de carregamento no seu parque".

Há dois caminhos para as autoridades, incentivos para a compra de viaturas sem emissões de CO2 e a imposição de restrições à circulação de viaturas convencionais. Algumas cidades europeias já estão a limitar as formas de abastecimento de produtos a lojas no centro, por exemplo, proibindo camiões a diesel. "Estas ações vão impulsionar a transição energética no sistema de mobilidade", disse António Louro.
 
"Isto é um problema que se coloca a nível europeu. Alguns países avançaram mais nos incentivos estatais à aquisição e há também os que apoiaram a criação de infraestrutura. O que vemos é que estes países estão na linha da frente no número de camiões elétricos a circular". Os veículos têm custos elevados na aquisição e custos ligados ao carregamento, pelo que as "pequenas e médias empresas vão sofrer dramaticamente com isto". Para António Louro, se o país quiser modernizar as frotas de transportes, será necessário manter incentivos durante algum tempo, "até haver paridade de custos entre um camião elétrico e outro a diesel".
 
Nesta entrevista, o diretor da Daimler Trucks Portugal também falou da diferença entre elétricos a bateria e baseados a hidrogénio: "O primeiro é eficiente, mas obriga a rotas muito bem planeadas, com cargas definidas. Quando a programação das cargas precisa de flexibilidade, a solução é o hidrogénio", disse. A Mercedes está a testar protótipos de camiões a hidrogénio com autonomia superior a mil quilómetros, revelou António Louro.

Luís Naves

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