
Aviões a hidrogénio podem ser os mais baratos já em 2035

Estudo da T&E revela que a operação de aeronaves a hidrogénio pode tornar-se mais competitiva numa década, desde que o querosene seja taxado na lógica expectável dos impostos climáticos.
Será que os aviões a hidrogénio podem algum dia vir a tornar-se competitivos e até mais baratos do que os movidos a combustíveis fósseis? Contra todas a expectativas, um estudo recente sugere que sim e que isso pode acontecer já a partir de 2035, desde que o querosene seja adequadamente tributado, respeitando a lógica dos impostos climáticos.
O elevado custo dos combustíveis alternativos e uma produção ainda incipiente têm sido, até agora, os principais entraves à sua disseminação nesta indústria. Segundo o estudo encomendado pela T&E (Federação Europeia de Transportes e Ambiente), daqui a pouco mais de uma década, operar aviões a hidrogénio seria 8% mais caro do que com o combustível convencional, nas condições de mercado atuais.
Mas aquela estimativa não leva em consideração a evolução previsível da tributação aos combustíveis fósseis nem com a definição de um preço para o carbono, na linha do que é expectável para o cumprimento das metas climáticas fixadas no Acordo de Paris e com o valor já definido na proposta de diretiva europeia. Ora, após o efeito desta tributação, outro estudo encomendado pela TE indica que em 2035 a operação de aeronaves a hidrogénio pode, afinal, ser 2% mais barata do que aquela feita com querosene.
E, para aquela organização não governamental, “essas taxas são fundamentais para a efetiva implantação de tecnologias verdes como o hidrogénio na aviação”.
Até agora, o passo mais recente nas políticas de Bruxelas face a este setor é o acordo obtido em abril para obrigar as companhias aéreas a utilizar combustíveis mais sustentáveis em toda a União Europeia. Uma decisão que se justifica por a aviação ser responsável por 13,9% das emissões dos transportes na UE, sendo a segunda maior fonte de emissões de gases de efeito de estufa, a seguir ao transporte rodoviário.
Segundo o acordo obtido pela Comissão e Parlamento, a decisão exige que os fornecedores misturem combustíveis de aviação sustentáveis com querosene, em quantidades crescentes, a partir de 2025. A Ideia é começar logo com uma percentagem mínima de 2% já daqui a ano e meio e ir aumentando progressivamente.
Pelas previsões da Comissão, a medida deverá reduzir as emissões de carbono dos aviões em dois terços até 2050 em comparação com “um cenário de nenhuma ação”.
Indústria à espera do hidrogénio
O estudo encomendado pela T&E aos analistas da Steer estimou os custos operacionais futuros de aviões a hidrogénio em voos intra-europeus e concluiu que eles poderiam ser uma tecnologia eficiente e competitiva em termos de custo para descarbonizar o setor. Mas esta está ainda longe de ser uma batalha ganha, pois há outras variáveis a ter em conta, nomeadamente, o andamento da própria indústria aeronáutica e da cadeia de produção dos combustíveis alternativos.
A Airbus, que lançou três conceitos para aviões a hidrogénio, ainda não garantiu se será capaz de cumprir a data prevista de lançamento para seu avião em 2035 e não tanto por questões de construção, mas por razões de mercado.
O fabricante alertou que o lento desenvolvimento do ecossistema de hidrogénio pode atrasar o lançamento de seus aviões de emissão zero. A Airbus também se opôs a um critério na taxonomia da UE – a lista de investimentos sustentáveis da UE – segundo o qual apenas aeronaves com emissão zero receberiam um selo de investimento verde. Algo que, entretanto, sofreu um volte-face, com as pretensões da indústria aeronáutica a levarem a melhor.
“A Airbus prometeu ao mundo que construiria um avião de hidrogénio até 2035. Construir esses aviões é economicamente viável, mas se quisermos que a Airbus cumpra o que promete, precisaremos de criar um mercado para aeronaves de emissão zero, tributando o combustível fóssil para aviação e tornando obrigatórios os aviões de emissão zero no futuro. Se tivermos que confiar apenas na boa vontade da Airbus, os aviões a hidrogénio nunca passarão de um sonho impossível” , disse o responsável para a aviação da T&E, Carlos López de la Osa, citado num artigo publicado no site da organização.
Custo maior está no combustível
A análise da Steer também revela que “o custo global da implantação de aeronaves a hidrogénio para a aviação intraeuropeia seria de € 299 mil milhões até 2050” . O desenvolvimento das aeronaves a hidrogénio, em si, representaria apenas 5% da despesa (€ 15 mil milhões). “Esta despesa inicial relativamente pequena deve, no entanto, acontecer antes de 2035, ou corre o risco de comprometer o sucesso desses novos aviões”, sublinha aquele responsável.
De acordo com o estudo, “a maioria do custo não recairá sobre o setor aeronáutico. Em vez disso, depende do desenvolvimento mais amplo da economia do hidrogénio verde. Mais de metade do custo (54% ou 161 mil milhões de euros) limita-se à produção de hidrogénio verde”. Outros 23% serão necessários para a liquefação do hidrogénio – o processo pelo qual o hidrogénio gasoso é arrefecido a temperaturas muito baixas para se tornar um líquido. Custos adicionais estão ainda no desenvolvimento da infraestrutura nos aeroportos (12%) e na distribuição do combustível para os aeroportos (6%), de acordo com a estimativa daquele estudo, parcialmente reproduzido pela T&E.
Carla Aguiar