
Bruxelas investiga preços baixos nos carros elétricos chineses

A medida anunciada pela presidente da Comissão Europeia poderá lançar uma guerra comercial com a China e atrasar a eletrificação do parque automóvel europeu
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou que vai lançar uma investigação aos subsídios estatais de Pequim para carros elétricos vindos da China. A dirigente discursava perante o Parlamento Europeu, no dia 13, no tradicional debate sobre o Estado da União Europeia, em Estrasburgo. "A Europa está aberta à competição, mas não [está interessada] numa competição até ao fundo", argumentou Von der Leyen, referindo-se aos preços baixos praticados pelas marcas chinesas de veículos elétricos, uma concorrência que preocupa os construtores europeus.
O discurso da presidente da comissão teve largos segmentos dedicados à reindustrialização da Europa com base no ambicioso programa ambiental de redução de emissões de gases com efeito de estufa, o chamado Pacto Ecológico. O ambiente estará no centro da política económica europeia e Bruxelas quer usar este instrumento numa nova estratégia de crescimento. "O futuro da nossa indústria de tecnologias limpas tem de ser feito na Europa", disse Von der Leyen.
Na opinião da dirigente, há países com práticas "predatórias", que excluem as companhias europeias dos seus mercados. Embora não tenha referido que países eram esses, mais à frente no seu discurso ficou claro que se referia à China: "não esquecemos como as práticas injustas da China afetaram a indústria da [energia] solar. O preço é mantido demasiado baixo através de subsídios estatais".
Esta parece ser a lógica na investigação de Bruxelas sobre os carros elétricos, mas existe aqui um risco evidente de se lançar uma guerra comercial entre Europa e China. A ideia também não favorece os objetivos ambientais. Por um lado, a UE quer acelerar a eletrificação do parque automóvel (maneira mais rápida de reduzir as emissões no setor dos transportes), mas há também pressão dos fabricantes europeus, cujos carros elétricos são mais caros do que os chineses. Relembrar que em 2035 deixam de ser construídos motores a combustão interna, uma tecnologia onde os europeus tiveram grande vantagem durante décadas.
Invasão chinesa
Nos primeiros sete meses de 2023 foram vendidos em toda a União Europeia mais de 820 mil veículos elétricos, o que equivale a 13% das vendas globais. As marcas chinesas surgiram em força neste mercado. Há cálculos que apontam para vendas chinesas de 8% dos carros elétricos comercializados, mas esta proporção duplicou em dois anos. O facto é que os carros chineses são mais baratos. Segundo dizem os especialistas, o valor médio anda pelos 32 mil euros, muito menos do que veículos de marcas europeias, cuja média ainda está acima de 50 mil euros.
A China tem grande controlo sobre as matérias-primas das baterias, nomeadamente sobre o lítio refinado, mas também sobre a tecnologia. Alguns construtores europeus estão a organizar alianças com congéneres chineses, procurando imitar o modelo da americana Tesla, que constrói carros na China com baterias locais. Por outro lado, empresas chinesas estão também a erguer fábricas de baterias em países da UE. Em resumo, está a ser erguida uma nova infraestrutura na indústria automóvel mundial, na qual os europeus perdem a preponderância que detinham nos motores a combustão interna.
Os fabricantes europeus de carros elétricos estão a tentar reduzir os seus custos e, por exemplo, a Renault já anunciou que vai lançar no próximo ano um novo modelo (R5) com preço 25% inferior ao dos seus anteriores modelos elétricos. Chegará a tempo para evitar a invasão de carros chineses mais baratos? A pergunta tem difícil resposta.
É possível que alguns fabricantes europeus sejam forçados a abandonar a gama inferior do mercado, concentrando-se nos veículos mais caros. Outros apostam no desenvolvimento de baterias competitivas com as chinesas, por exemplo, a Volkswagen, que tem uma parceria na China capaz de reduzir para metade o custo das suas baterias. Convém recordar que nos carros elétricos, a bateria representa 40% do custo final do veículo. Pequim apostou forte nesta tecnologia e está agora a recolher os frutos.
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