
Carlos Silva: "Estamos 20 anos atrasados no investimento em transporte público"

O presidente da EMEL, Carlos Silva, diz que o país está atrasado na aposta do transporte público e na sua eletrificação. E alerta para o risco de não conseguir cumprir as metas climáticas, sujeitando-se a pagar multas muito pesadas. O país perdeu grandes oportunidades no âmbito dos fundos do PT2020, diz, em entrevista.
O presidente da EMEL, Carlos Silva, faz um balanço muito crítico do investimento português em transportes públicos dos últimos anos, considerando mesmo que o país tem um atraso de 20 anos nesta matéria. “Os investimentos que estão agora a chegar, da Carris, dos barcos elétricos da Transtejo e de novos comboios, estiveram na gaveta durante oito anos”, disse Carlos Silva. “Portugal, desde o início dos anos 2000, não faz investimentos em transportes públicos". Mas isso pode ter um preço elevado. "As multas que podemos enfrentar serão muito pesadas e, portanto, temos que fazer tudo, nestes próximos seis anos, para as evitar”, alertou. O presidente da EMEL referia-se ao risco de falhar os prazos definidos no Acordo de Paris para alcançar a neutralidade carbónica. No caso particular de Lisboa, a cidade está comprometida com a meta de 2030.
Carlos Silva admitiu ainda que Portugal “não está com o nível de rapidez mais adequado” relativamente às metas da descarbonização. “Faltam seis anos para cumprir as metas do Horizonte 2030, que obrigam o país a tomar medidas que nos conduzam à neutralidade carbónica. Há políticas que estão a ser implementadas, outras que estão a ser pensadas, e, portanto, é muito urgente fazermos esta transição energética”, considerou.
O presidente da EMEL reconhece que o país “perdeu oportunidades” para eletrificar a rede de transportes públicos e que é preciso fazer mais. “Há um esforço grande por parte do país no sentido de eletrificar toda a rede ferroviária nacional, mas no caso do PT2020 havia qualquer coisa como 2500 milhões de euros para investir nessa eletrificação e o país perdeu muitas dessas oportunidades. O nível de execução desse programa ronda os 16 a 17%, o que é muito pouco face àquilo que era necessário”, lamentou, acrescentando que “estas metas têm que ser olhadas com responsabilidade e compromisso”.
Carlos Silva adianta que naquilo que é da competência da EMEL, a empresa municipal está a investir na mobilidade suave, nomeadamente com a rede de bicicletas partilhadas Gira, estando a verificar-se “um avolumar das viagens nas horas de ponta, o que quer dizer que é mesmo um meio de transporte alternativo para chegar ao trabalho e à escola”.
O responsável falava em entrevista à margem da Cimeira de Cascais do Portugal Mobi Summit, que se realizou a 29 e 30 de novembro na Nova SBE, em Carcavelos.