
Carros elétricos estão quase a atingir a paridade com a combustão

Um automóvel a bateria já é mais barato de manter do que um veículo equivalente a gasolina ou diesel. Um estudo britânico afirma que no próximo ano haverá paridade também no preço de compra no espaço europeu.
No automóvel elétrico foi ultrapassado um ponto de viragem crucial: os veículos já são mais baratos de manter do que carros semelhantes a combustíveis fósseis. Esta é a primeira conclusão de um estudo da Universidade de Exeter, no Reino Unido, no âmbito do projeto Economics of Energy Innovation and System Transition, com financiamento do Bezos Earth Fund. Na descarbonização do setor da mobilidade, o carro elétrico é o sistema mais barato.
Segundo os autores do documento (Crossing the Tipping Point), o mercado de veículos a bateria deve crescer pelo menos seis vezes até 2030, na Europa e na China. Naquele ano, a quota dos elétricos ultrapassará 62% das vendas, até um máximo de 86%. Isto contrasta com as projeções habituais, que mencionam a perspetiva de apenas 40% das vendas.
O segundo ponto de viragem está iminente. Trata-se da paridade de preços, que pode acontecer em 2024 na Europa, em 2025 na China, e no ano seguinte nos Estados Unidos. A equivalência de preços na aquisição será determinante na evolução da tecnologia e alguns governos já estão a pensar em apoios para acelerar a tendência.
Outra conclusão essencial deste trabalho é que as políticas públicas antecipam os pontos de viragem. O exemplo da Noruega é evidente. Este país escandinavo conseguiu atingir a igualdade de custos de manutenção (entre elétrico e convencional) em 2012, com uma década de avanço em relação ao resto do mundo. Em 2021, foi atingida a paridade de preços. Isto só foi possível devido à introdução de medidas que incluíram incentivos fiscais, impostos, facilidades de acesso ou investimento em postos de carregamento, tudo isto a beneficiar os carros elétricos. Resultado: em 2022, quatro em cada cinco carros vendidos na Noruega eram elétricos.
O relatório conclui que devem ser aplicadas leis que imponham zero emissões, mas também subsídios à aquisição e impostos sobre veículos a combustíveis fósseis (não é discutida a impopularidade de tais medidas). A combinação de mecanismos e a cooperação internacional aceleram o processo, com benefícios para todos os países, já que se chegará mais cedo às metas de redução de emissões de gases com efeito de estufa.
Existe um obstáculo importante na expansão do setor, a relativa escassez de postos de carregamento. Este estudo conclui, no entanto, que o crescimento da rede em todo o mundo está a ser compatível com o aumento das vendas de veículos elétricos, já que se tem mantido uma média entre 8 e 10 veículos por carregador disponível.
O relatório também discute a questão da possível escassez de matérias-primas para fabricar baterias, como cobre, cobalto ou lítio. As reservas de cobalto, por exemplo, somam 25 milhões de toneladas e, até 2050, serão necessárias 10 milhões de toneladas. No cobre e no lítio, a situação é ainda mais favorável. Trata-se de estimativas e as reservas são por vezes sobrestimadas nos países produtores. Por exemplo, segundo o US Geological Survey, as reservas mundiais de cobalto são de apenas 7,1 milhões de toneladas.
Outro elemento fulcral tem a ver com a reciclagem de materiais, onde há avanços recentes: se o processo é mais eficiente, haverá maior folga na obtenção de matérias-primas essenciais. O relatório sublinha ainda as vantagens da transição para o transporte elétrico. Em primeiro lugar, a tecnologia vai reduzir as importações de petróleo. A China, por exemplo, gastou, em 2022, 365 mil milhões de dólares em crude importado. A Índia, 173 mil milhões. Tendo em conta que os transportes consomem dois terços destas importações, os veículos elétricos vão permitir poupanças.
Por outro lado, o investimento da indústria será colossal (1,2 biliões em todo o mundo, milhões de milhões de dólares) até 2030. Isto terá implicações no emprego e crescimento económico. Os veículos elétricos são também menos poluentes, não emitindo gases tóxicos como monóxido de carbono, pelo que haverá menos vítimas de doenças pulmonares.