
Desigualdades sociais aceleram crise climática mundial

Um estudo da Oxfam afirma que 77 milhões de milionários emitem tanto dióxido de carbono como 5 milhões de pobres em todo o mundo. A classe de hiper-ricos tem padrões de consumo incompatíveis com o controlo das alterações climáticas.
As desigualdades sociais têm profundo impacto climático e são visíveis na distribuição das emissões de gases com efeito de estufa. Segundo um estudo divulgado pela Oxfam, a camada de 1% de pessoas mais ricas produziu em 2019 o equivalente a 16% do total de emissões de dióxido de carbono (CO2) no mundo, o mesmo que os dois terços mais pobres da humanidade, mais de 5 milhões de pessoas. Segundo a Oxfam, os super-ricos estão a destruir o planeta, sendo os pobres a sofrer os piores efeitos das alterações climáticas, como inundações catastróficas, secas devastadoras ou ondas de calor.
Este relatório sobre desigualdade climática calcula que os 77 milhões de hiper-ricos no planeta tenham emitido uma proporção superior às emissões de todo o setor de transportes, sendo que a mobilidade é responsável por 15% do total dos gases com efeito de estufa lançados anualmente para a atmosfera. Quando são feitas as contas aos 10% mais ricos, a fatia de emissões aumenta para metade do total. Cada milionário tem em média uma pegada carbónica equivalente a 1500 pobres.
A desigualdade económica implica padrões de consumo incompatíveis com a redução das emissões, de que é exemplo o uso de jatos privados ou investimentos em combustíveis fósseis. Também deve ser considerado o impacto desproporcionado que a classe de hiper-ricos tem na política e, obviamente, nas grandes empresas multinacionais. As legislações são construídas em torno dos seus interesses.
Além disso, são os países pobres que sofrem de forma mais severa os efeitos das alterações climáticas, algo que aumenta as desigualdades entre as regiões do globo. A extração de recursos é também desigual, com os fornecedores de matérias-primas geralmente atingidos negativamente pela exploração excessiva.
A crise climática está ligada à crise da desigualdade entre as nações, afirma-se neste estudo. As emissões de carbono dos 1% mais ricos são 22 vezes superiores ao nível compatível com o cumprimento da meta de aumento da temperatura média global em 1,5 graus centígrados face aos níveis pré-industriais. Dito de outra forma, se depender desta camada da população, será difícil atingir o objetivo internacional para 2030 definido nos Acordos de Paris sobre alterações climáticas.
Para combater o problema, a Oxfam defende impostos mais elevados para os ricos, taxação severa dos consumos com mais emissões, redução das desigualdades e medidas de combate à pobreza. Um imposto de 60% nos rendimentos dos hiper-ricos poderia reduzir para metade as emissões deste grupo de rendimento, calculam os autores do estudo. O dinheiro serviria para financiar a transição energética, acelerando o processo de descarbonização da economia.
A Oxfam (organização que combate a pobreza e foi criada no Reino Unido) critica igualmente o uso do indicador de Produto Interno Bruto (PIB) como medida do progresso. A saída dos combustíveis fósseis deve ser acelerada.