
Estocolmo interdita carros a gasolina e a diesel no centro da cidade

O município da capital sueca anunciou que pretende banir os automóveis com motores a combustão interna numa área com vinte quarteirões. A medida, que ainda não foi votada, poderá entrar em vigor a partir do último dia do próximo ano e visa melhorar a qualidade do ar para a população.
Estocolmo anunciou a proibição de circulação de automóveis com motores a combustão no centro da cidade, a partir de 2025. A proposta prevê a interdição em duas dezenas de quarteirões onde há muito comércio. A intenção é que as entregas nas lojas sejam cada vez mais efetuadas por veículos elétricos, transição que irá reduzir o ruído. A área tem 18 hectares, mas as autoridades camarárias já ponderam a sua expansão.
A ideia inicial era intervir numa zona mais limitada, mas foi decidido avançar com um plano ambicioso, que inclui a eliminação de lugares de estacionamento e a criação de ruas para peões. Na Suécia, há elevado interesse por renovações urbanas que incluem a expansão das zonas de peões, de ciclovias e de lazer, sendo comuns as intervenções de mobilidade lenta, com menos trânsito e menos lugares de estacionamento. A intenção é reduzir mais depressa as emissões de gases com efeito de estufa, mas também gases tóxicos produzidos pelos motores.
Citado pelas agências de notícias, um autarca de Estocolmo, Lars Strömgren, explicou que a lógica do plano era reduzir as mortes prematuras por doenças pulmonares. "Temos de eliminar os gases prejudiciais dos carros a gasolina e diesel", disse. O plano é proposto pelos Verdes, que dominam o conselho municipal. A ideia irá a votos no próximo mês, mas a votação é uma formalidade.
A tendência de restringir a circulação de veículos com motores a combustão está a instalar-se em muitas cidades europeias, através de renovações urbanas, proibições, desvio de trânsito ou sistemas de pagamento. Neste último caso, Londres é o exemplo mais evidente, com a introdução das polémicas zonas de emissões ultra-baixas (ultra-low emission zone, ULEZ), que têm feito correr muita tinta.
Trata-se de uma vasta área do interior da capital britânica onde os veículos a diesel posteriores a 2015 e os de gasolina posteriores a 2005 podem circular livremente. Os outros pagam 12,5 libras por dia (cerca de 15 euros). Esta medida teve efeitos políticos nacionais e é contestada pela indústria, pelos comerciantes e pelos cidadãos residentes no exterior da zona. A principal crítica é de que são os condutores mais pobres a sofrer as consequências.
Estocolmo quis ir um pouco mais longe e proibiu a circulação dos carros da tecnologia de motores de combustão, apesar de tudo com algumas exceções, por exemplo, híbridos, ambulâncias ou carros da polícia.
A questão ambiental está a tornar-se cada vez mais partidária. O governo sueco (coligação de centro-direita suportada no parlamento por um partido populista) anunciou recentemente extensos cortes na despesa pública dedicada ao ambiente. Curiosamente, o governo conservador britânico também recuou nas metas ambientais do país, agora alinhadas com as da União Europeia.
Os municípios de Londres e Estocolmo são dominados por partidos da esquerda (ambos na oposição a nível nacional) e as restrições da capital sueca ao uso de automóveis não são populares entre o eleitorado mais à direita ou nas empresas. A iniciativa está a ser criticada, por exemplo, pelas companhias de táxis e pela indústria automóvel. Estes dois setores dizem que estão a fazer grandes esforços de eletrificação, que as emissões estão a baixar depressa e que a transição tem de ser mais gradual.
Luís Naves