Europa reduziu emissões com efeito de estufa

2023
22-08-2023

A UE registou no primeiro trimestre deste ano uma diminuição de 2,9% na produção de dióxido de carbono. Portugal conseguiu melhorar o ambiente enquanto a sua economia crescia.

As emissões de gases com efeito de estufa na União Europeia somaram 941 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2-equivalente) no primeiro trimestre deste ano, o que representou uma diminuição de 2,9% em relação ao período homólogo de 2022, revelou o organismo estatístico europeu, Eurostat. Esta redução das emissões coincidiu com um crescimento da economia europeia de 1,2%, também homólogo.

O cálculo das emissões é uma estimativa, sendo este valor o mais baixo em todos os primeiros trimestres desde 2010. Refira-se que este período coincide com o pico do inverno na União Europeia. Persiste apesar de tudo a dúvida se a redução está em linha com as ambições ambientais europeias. Até 2030, a UE quer diminuir as emissões de gases com efeito de estufa em 55%, face aos níveis registados em 1990.

No primeiro trimestre de 2023, as emissões diminuíram em 21 países da UE, incluindo em Portugal. Em seis Estados-membros, houve aumento na produção de CO2 e bom desempenho da economia. As maiores subidas nas emissões registaram-se na Irlanda e Letónia, enquanto as maiores quebras foram na Bulgária, Estónia e Eslovénia. Portugal foi um dos 15 países que conseguiram reduzir as suas emissões enquanto a economia crescia.

Comparando todos os primeiros trimestres dos últimos dez anos, verifica-se uma subida até 2017, quando foi atingido o pico, com uma estimativa de produção de 1096 milhões de toneladas de CO2. A partir daí, foi quase sempre a descer. Em 2020, o primeiro trimestre não foi ainda muito afetado pela pandemia, por isso o abrandamento económico foi sobretudo visível nos dados de 2021, quando se atingiu um valor de 945 milhões de toneladas no primeiro trimestre. Em 2022, houve uma ligeira subida e depois verificou-se nova quebra, atingindo-se o recorde de 2023.

Se compararmos o primeiro trimestre de 2023 com o mesmo trimestre de 2017, que foi o pior dos últimos dez anos, verificamos que houve uma redução de 14,4% nas emissões. As estimativas do Eurostat conseguem dividir os várias componentes, havendo cinco grupos mais poluentes: a pegada carbónica das famílias e suas habitações, da indústria, da energia, dos transportes e da agricultura. Por motivos não explicados, houve uma inversão de posições entre 2017 e 2023. A energia, que era o grupo com maiores emissões é agora o terceiro maior.

As emissões de dióxido de carbono são sazonais, com valores mais elevados no inverno, sobretudo no quatro trimestre de cada ano e no primeiro do ano seguinte (emparelhados com valores semelhantes, em função da intensidade do clima).

Concretamente, no primeiro trimestre de 2017, a energia foi responsável por 277 milhões de toneladas de CO2; as famílias vinham logo atrás, com 262 milhões de toneladas (isto inclui iluminação e aquecimento das casas). No primeiro trimestre deste ano, a energia já surgia em terceiro lugar, atrás da indústria e das famílias, fruto de uma redução de 36% na produção de carbono. Esta alteração pode estar ligada à Guerra da Ucrânia, que levou muitos países europeus a consumirem menos petróleo e gás natural da Rússia, obrigando por outro lado a maior uso de renováveis e de energia nuclear. O inverno de 22-23 foi também considerado relativamente ameno e talvez isso explique o recorde.

Sempre na comparação entre 2017 e 2023, e apesar de terem recuperado os níveis de utilização anteriores à pandemia, os transportes reduziram a produção de CO2 em 8%, o que pode ser consequência do aumento dos carros elétricos em circulação e da maior eficácia dos motores a combustão, mas também da recuperação dos comboios como meio privilegiado de transporte e da modernização das frotas das transportadoras aéreas.

O setor dos transportes produziu 105 milhões de toneladas de dióxido de carbono no primeiro trimestre de 2017, mas apenas 96 milhões no período homólogo deste ano. Bem melhor do que a indústria, que só conseguiu reduzir os gases com efeito de estufa em 6% ou da agricultura, com uma melhoria ainda mais limitada de 1,6%.

Luís Naves


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