
Frotas empresariais devem tornar-se elétricas até 2030

É o maior segmento automóvel da UE, responsável por 74% das emissões dos carros novos, mas é o que menos adere ao modo elétrico. Bruxelas quer as frotas mais verdes para atingir as novas metas climáticas até 2030. E a T&E defende mesmo a obrigatoriedade de comprar elétricos já nos próximos sete anos.
Por que razão as frotas empresariais estão a aderir menos à mobilidade elétrica do que os particulares? Se, à partida, as empresas dispõem de maiores recursos e benefícios fiscais, seria de esperar uma adesão mais expressiva. Mas os dados revelam que, em 2022, só 10,8% dos novos carros corporativos na União Europeia eram veículos elétricos, contra 14,5% no mercado particular, um fosso que se está mesmo a acentuar. Em Portugal, a disparidade também não é muito diferente.
Inverter esta tendência é o objetivo da iniciativa 'Greening Corporate Fleets' (Tornar as frotas comerciais mais ecológicas), anunciada pela Comissão Europeia como um tema prioritário na sua agenda para 2023. Percebe-se melhor o porquê desta urgência se atentarmos à dimensão deste mercado. As frotas corporativas são o maior segmento de automóveis da Europa. Respondem por 58% das novas vendas e – dada a alta quilometragem – são responsáveis por 74% das emissões dos veículos novos.
Facilmente se depreende que a eletrificação de carros corporativos é essencial para acelerar a redução de emissões dos transportes em toda a Europa. Um passo importante, sobretudo agora, que a UE e os Estados-membros aumentaram recentemente a ambição do Regulamento de Partilha de Esforços, estabelecendo metas vinculativas para 2030 para o transporte rodoviário, aquecimento, agricultura, pequenas instalações industriais e resíduos.
Tendo em conta os dados de mercado e os objetivos traçados, um relatório da T&E (Federação Europeia para os Transportes e Ambiente) analisa cinco cenários e opções políticas diferentes que a UE pode seguir. E conclui que Bruxelas deve propôr o cenário político mais ambicioso - estabelecer como meta obrigatória que todos os novos carros corporativos sejam elétricos até 2030. E que, até 2027, os elétricos correspondam a 50% das novas frotas comerciais. Por muitas razões, mas também porque 'as metas voluntárias não funcionam'.
No seu relatório, a T&E diz mesmo que “é inaceitável que as corporações estejam atrasadas na transição para a mobilidade de emissão zero. As companhias e empresas de leasing têm recursos financeiros para arcar com custos iniciais mais altos e estão a aproveitar-se de grandes benefícios fiscais na maioria – se não em todos – dos países da UE”.
A organização não governamental mostra que a definição de metas obrigatórias de emissão zero para frotas pode trazer benefícios para os cidadãos, para a indústria automóvel e ajudar nas metas de segurança energética da UE. Ao detalhe, o documento traça uma lista de benefícios da adoção das metas mais restritivas.
4 benefícios das frotas 'net zero'
Reduz emissões de CO2. As emissões dos carros são reduzidas em 30MtCO2e (milhões de toneladas) adicionais para o ano de 2030. No total, são 83 MtCO2e a mais em comparação com as atuais políticas da UE. As metas 'net zero' até 2030 já reduziriam a diferença de emissões em 37%, provando que é crucial para que a UE e os Estados-Membros cumpram as suas novas metas.
Acelera a adoção de carros elétricos. 11 milhões de carros elétricos a bateria adicionais estarão na estrada até 2030, substituindo carros poluentes a gasolina e a diesel. Uma meta vinculativa da UE garante uma procura crescente contínua por BEVs, apoiando assim os construtotes automóveis na sua transição para se tornarem fabricantes de carros elétricos e os objetivos do Plano Industrial Verde da UE para trazer a produção de carros elétricos e baterias para a Europa.
Oferta de elétricos usados acessíveis.Hoje, quase 8 em cada 10 cidadãos da UE compram seu carro em segunda mão. Dado o seu período de propriedade muito mais curto (três a quatro anos), os carros corporativos eléricos podem acelerar rapidamente o fornecimento de BEVs de segunda mão a preços acessíveis. Uma meta vinculativa da frota da UE trará 12,5 milhões adicionais de BEVs de segunda mão para o mercado até 2035.
Poupança nas importações de petróleo. As importações de petróleo são ainda mais reduzidas em 208 milhões de barris de petróleo adicionais até 2030 e 1.029 milhões até 2040. Metas para as frotas da UE são um contributo de peso para aumentar a segurança energética e ser menos dependente das importações de petróleo.
Carla Aguiar