
Governo planeia uma rede-piloto de abastecimento de hidrogénio

O uso do hidrogénio verde na mobilidade tem ainda limitações importantes, mas o Governo pondera avançar com uma rede piloto de abastecimento e tem grandes ambições no setor. Portugal será para já um exportador deste combustível.
O governo prepara o lançamento de uma rede piloto de abastecimento de veículos a hidrogénio, aproveitando a circunstância de haver produtores de hidrogénio verde disponíveis para fornecer o combustível. Os pormenores ainda não estão definidos, mas o anúncio desta intenção foi feito pelo Secretário de Estado da Mobilidade Urbana, Jorge Delgado, num debate hoje, durante a Mobi Summit. Esta rede-piloto pode levar ainda dois ou três anos a concretizar na sua totalidade e deve ser regional no início.
O hidrogénio é um dos combustíveis mais promissores da transição energética, mas a adesão dos consumidores ao uso de veículos com células de hidrogénio é muito menor do que o entusiasmo em torno dos carros elétricos. No debate da Mobi Summit discutiu-se se esta tecnologia é uma esperança ou uma moda. O perito da BMW Axel Kaltwasser explicou as possibilidades destes veículos e admitiu que a adoção generalizada dos carros a hidrogénio poderá ser uma realidade no final da década.
Por enquanto, não há veículos em quantidade nem estações de serviços dedicadas. Fernanda Simões, administradora da transportadora Luís Simões Logística, referiu que a sua empresa fez um teste com um camião a hidrogénio e foi necessário suspender a experiência. "O abastecimento é um problema. O custo de um camião deste tipo é muito elevado", disse. Apesar deste revés, Fernanda Simões considerou que a tecnologia de hidrogénio é uma "aposta no futuro". A empresa de transportes gere uma frota de 2100 camiões e o problema da tecnologia elétrica, na comparação com o hidrogénio, tem a ver com os tempos de paragem.
O secretário de Estado Jorge Delgado reconheceu que existe um problema de "ovo e da galinha", ou seja, os postos de combustíveis são raros, os veículos são dispendiosos, os consumidores hesitam. No entanto, Portugal começa a ser um importante produtor de hidrogénio verde (produzido por eletrólise com uso de energia renovável) e o governo tem grandes ambições neste setor, onde vai investir fortemente com dinheiro do PRR.
Esta ideia foi também sublinhada por Nelson Lage, presidente da ADENE, Agência para a Energia. Segundo afirmou Lage, Portugal e Espanha têm uma grande oportunidade para serem fontes de produção e exportação de hidrogénio para toda a Europa". Primeiro haverá exportação, depois o uso nos transportes pesados, finalmente nos carros ligeiros e nas casas, disse o presidente da ADENE.
As vantagens do hidrogénio foram explicadas pelo perito da BMW, Alex Kaltwasser. Abastecimento tão rápido como num carro a motor a combustão e autonomia muito elevada, ou seja, uma rede mais pequena de postos pode garantir o abastecimento de maiores quantidades de veículos, em comparação com os elétricos. Outra vantagem, menor uso de minerais críticos. O perito da marca alemã mencionou a abordagem flexível e a coexistência entre hidrogénio e carros elétricos. Noutro ponto do debate, o secretário de Estado Jorge Delgado acrescentou que "não há competição, mas duas tecnologias".
Luís Naves