
Lisboa ganha 15 elétricos zero emissões para cumprir metas ambientais

Entrada em funcionamento dos elétricos articulados da Carris coincide com o arranque da conferência 'Rumo a um mundo net zero' – os desafios da transição'. E acontece num momento em que Lisboa projeta novas ciclovias e inibição de circulação automóvel em artérias centrais.
Faltam apenas sete anos para Lisboa chegar à meta a que se comprometeu e atingir a neutralidade climática em 2030. O desafio é gigante e requer mudanças dramáticas e rápidas em várias frentes, desde os transportes ao redesenho da cidade, cada vez mais centrada nas pessoas e menos nos carros. Hoje, a capital dá mais um passo significativo nesse sentido com a entrada em funcionamento dos novos elétricos articulados sem emissões da Carris, a coincidir com o término da Semana Europeia de Mobilidade e o início da conferência 'Rumo a Mundo Net Zero – Os Desafios da Transição', que se realiza hoje no Museu dos Coches, no âmbito do Portugal Mobi Summit.
São um conjunto de 15 veículos elétricos que entram em operação de forma faseada, reforçando e prolongando a linha ribeirinha até ao concelho de Oeiras. Com esta aquisição vai ser possível não só aumentar a frequência do transporte, reduzindo tempos de espera, como também avançar com os prolongamentos da linha: de um lado, de Algés até à Cruz Quebrada; do outro, da Praça da Figueira até Santa Apolónia. Está igualmente previsto que a linha siga até ao Parque das Nações.
O investimento total de mais de 43 milhões de euros vai permitir mais do que duplicar a frota de elétricos articulados dos atuais 10 para 25.
Noutra frente, a capital vai prosseguir com a orientação estratégica de reduzir o uso do carro individual, criando alternativas de mobilidade e zonas de acalmia de tráfego. Dois exemplos nesse sentido foram, de resto, anunciados esta semana pelo vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Filipe Anacoreta Correia avançou que, após a conclusão das obras em curso, a Rua da Prata, na baixa da cidade, deverá transformar-se numa zona de mobilidade lenta, com prioridade para peões, bicicletas e elétricos e onde o trânsito automóvel não é bem-vindo. É uma forma de prosseguir na redução das emissões de co2, mas também de devolver a cidade às pessoas.
Ali bem perto foi também inaugurada, no início da semana, uma ciclovia provisória entre a Praça dos Restauradores e a Rua da Prata, que vai servir como teste. Se os resultados do inquérito aos utilizadores forem positivos durante estes dias, a ciclovia poderá tornar-se definitiva, adiantou a diretora Municipal de Mobilidade, Ana Raimundo. A iniciativa insere-se no âmbito do lançamento do programa BICI- Bloomberg Iniciative for Cycling Infrastructure, que selecionou Lisboa entre dez cidades internacionais, e vai apoiar com 400 mil euros a melhoria da rede ciclável da capital portuguesa. O objetivo central é reforçar a rede e fazer cerca de 10 km em ligações diretas a cerca de duas dezenas de escolas. Serão um total de 14 ciclovias segregadas integradas neste projeto com o propósito de revolucionar a mobilidade escolar, demasiado assente no carro individual. Estima-se que mais de 30% das deslocações de automóvel na cidade sejam para levar os filhos à escola.
Os projetos municipais “Amarelo” e “Comboios de Bicicletas” visam, justamente, combater essa dependência e incentivar tanto o uso do transporte público como as bicicletas pelos alunos do primeiro e segundo ciclos, com acompanhamento por monitores da CML. São já mais de 200 as crianças e jovens abrangidos, mas têm de ser muitos mais.
O futuro da cidade e do país, como um todo, passará cada vez mais por zonas de zero emissões e velocidade controlada, onde só a mobilidade sustentável tem direito a entrar. Disso mesmo depende a estratégia nacional que antecipou para 2045 a meta da neutralidade carbónica. E desse tema falará também o ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, no encerramento da conferência de hoje organizada pelo Global Media Group e a EDP em parceria com a CML.
Afinal, as emissões em Portugal não só não estão a baixar, como cresceram em 2022, após o interregno da pandemia.
Perante este cenário vai ser preciso acelerar em todas as frentes. A mobilidade elétrica terá de representar, a breve prazo, muito mais do que os cerca de 2% do parque automóvel que representa atualmente. E as fontes de energia, usada no abastecimento, têm de ser, também elas, mais renováveis. Por isso, é importante ficar a conhecer o estado da arte da energia solar, eólica e da cadeia do hidrogénio em Portugal, outro dos temas em foco na conferência, agora que as centrais de carvão foram encerradas.
Igualmente crítico é o desenvolvimento da infraestrutura de carregamento de veículos elétricos, um tema a desenvolver pela administradora executiva da EDP, Vera Pinto Pereira. Apesar de Portugal figurar, em 2022, entre os cinco países da União Europeia com mais pontos de carregamento por cada 100 km de estrada, a verdade é que o carregamento ainda é uma barreira decisiva a condicionar a opção pela compra de um carro elétrico, sobretudo porque a maioria da população vive em prédios sem garagem. A outra razão é o preço ainda mais elevado face aos veículos a combustão. A concorrência das marcas chinesas já presentes em Portugal promete aliviar este desequilíbrio, por um lado, e abrir uma guerra à indústria automóvel europeia, por outro, de consequências ainda difíceis de prever. É uma corrida contra o tempo, que corre a favor do aquecimento global e dos desastres climáticos, mas não nos podemos dar ao luxo de perder por falta comparência.
Carla Aguiar
Carla Aguiar