
Os 'prós' e os 'contras' dos combustíveis sintéticos vão marcar a agenda do futuro próximo

É importante continuar a exigir a neutralidade carbónica integral a estes combustíveis, alerta a organização europeia Transport & Environment. Os sintéticos apresentam vantagens logísticas e são encarados como uma alternativa para a transição energética.
Num mundo em plena transição energética por imperativos climáticos, os combustíveis sintéticos (e-fuel) têm sido apontados como uma alternativa à onda elétrica para alcançar a neutralidade carbónica. Mas um estudo da Transport & Environment (TE) vem dizer que há riscos: se não houver exigência máxima para neutralizar estes combustíveis, os impactos ambientais serão negativos.
Os combustíveis sintéticos representam algumas vantagens, na medida em que a massificação dos veículos elétricos não é viável ou sustentável no curto prazo. Mesmo que todo o parque automóvel mundial fosse substituído por este tipo de carros, “a rede elétrica existente não aguentaria a demanda de energia, o que levaria ao surgimento de novas centrais termoelétricas”, para acudir às necessidades não satisfeitas pelas energias renováveis, defendem alguns especialistas.
Por outro lado, também há estudos a indicar que a pegada de um carro elétrico é superior à de um híbrido, devido à sua massiva necessidade de baterias que levam à mineração de lítio, o que provoca diversos e profundos impactos no equilíbrio ecológico do planeta. Indicadores que fornecem alguns pontos ao e-fuel, que deverá ter maior adesão nos transportes pesados.
É um combustível liquefeito composto de água e dióxido de carbono num processo realizado à custa de energias renováveis, livre de enxofre e benzeno, que o pode tornar carbonicamente neutro. A principal vantagem é que esta tecnologia permite que os atuais automóveis continuem a circular e a atual rede de abastecimento – bombas de gasolina, pipelines – pode continuar a ser usada.
O que um novo estudo da Transport & Environment vem dizer é que os veículos movidos a combustíveis sintéticos poderão ter um impacto ambiental quase cinco vezes maior que os veículos elétricos se a UE baixar o nível de exigência para que sejam neutros em carbono.
Todos os carros novos vendidos na UE a partir de 2035 deverão ter zero emissões de CO2, mas admite-se que Bruxelas deverá fazer uma isenção para veículos que funcionem a combustível sintético. Embora a Comissão Europeia afirme que apenas os combustíveis sintéticos que sejam 100% neutros em carbono podem beneficiar da isenção, a indústria petrolífera pretende que esses critérios sejam aligeirados.
Ora, a organização europeia TE calculou as emissões de CO2 “do poço até a roda” dos combustíveis sintéticos – o total de emissões necessárias para produzir, distribuir e usar o combustível. E concluiu que os automóveis a combustível sintético emitiriam 61 gramas de CO2 equivalente por quilómetro em 2035 se os legisladores aplicassem os critérios mais fracos de 70% de neutralidade em carbono, exigido pela atual lei da UE em matéria de energias renováveis. Isto contrasta com os veículos eléctricos, que emitiriam apenas 13 gCO2/km quando carregados com electricidade da rede média da UE a partir de 2035.
A organização lembra que, “para serem totalmente neutros em carbono, os combustíveis sintéticos teriam de ser produzidos utilizando emissões de CO2 capturado que equilibrem o dióxido de carbono libertado quando o combustível é queimado num motor”.
A produção de combustíveis sintéticos também é cara, e, sustenta a TE, “abastecer carros com e-gasolina custará muito mais aos motoristas do que operar um veículo elétrico a bateria ou até mesmo um carro movido a gasolina fóssil”. A produção de e-combustíveis também é muito menos eficiente do que a propulsão de veículos eléctricos, acrescenta a análise.
A Comissão pediu feedback aos Estados-Membros sobre a sua proposta de permitir apenas combustíveis sintéticos 100% neutros em carbono em automóveis novos após 2035. Espera-se que os governos da UE tomem uma decisão final sobre os critérios antes do final do ano.
Carla Aguiar