
Políticos europeus querem expandir a rede de comboios nocturnos

Carta aberta pede à Comissão Europeia que crie incentivos para as ligações transfronteiriças de comboios nocturnos entre as grandes cidades da UE. Sete em cada dez europeus estariam dispostos a trocar o avião pelo comboio para reduzir as emissões, segundo um estudo invocado pelos signatários do apelo.
Dezenas de políticos e dirigentes da indústria ferroviária assinaram uma carta enviada à Comissão Europeia onde defendem incentivos ao uso de comboios noturnos em todo o continente. Segundo o jornal online especializado em assuntos europeus, Euractiv, o documento pede uma nova estratégia de Bruxelas, que defina uma rede europeia de comboios que já foram outrora muito populares e podiam voltar a ser a opção ideal para viajar entre as grandes cidades da UE.
Segundo o grupo de signatários, onde se incluem ex-ministros e eurodeputados conservadores, liberais, socialistas e verdes, o renascimento de uma rede global na UE permitiria enormes poupanças em emissões de CO2. "Sete em cada dez europeus" usariam estes serviços, se eles estivessem disponíveis, pode ler-se na carta citada por Euroactiv. Os autores afirmam que nas linhas europeias onde estes comboios circulam, existe grande interesse dos viajantes, seja para turismo ou para viagens de negócios.
A Comissão Europeia tem planos para estimular o uso das ferrovias e, em 2021, anunciou que queria duplicar até 2030 o tráfego de comboios de alta velocidade na UE.
Os comboios noturnos fazem parte desta estratégia, mas existem obstáculos ao seu desenvolvimento, nomeadamente os atrasos verificados nas ligações entre países, já que as configurações têm de ser mudadas em várias fronteiras. Outros problemas incluem o investimento em novas carruagens equipadas com cabinas dispondo de camas ou custos de acesso às linhas, que os operadores têm de pagar aos detentores da infraestrutura.
As próprias autoridades europeias reconhecem que o sistema ferroviário ainda tem fronteiras que implicam custos elevados para o setor dos transportes e constituem um entrave à liberdade de circulação no mercado único. A legislação da UE não tem sido eficaz, de que é exemplo o abandono de novas regras para a coordenação de horários englobando ferrovias e aviação comercial, devido a grande resistência das empresas dos dois setores.
A carta defende que se avance para um mercado ferroviário continental, com o aumento da liberdade de operação entre países, uma vez salvaguardadas as normas de segurança. Nesse sentido, devem ser aproveitadas as redes trans-europeias de transportes, para as quais existem já mecanismos de financiamento. Menos burocracia, regras europeias de segurança, bilheteiras continentais e recurso a empréstimos seriam outras vias para aumentar o uso dos comboios noturnos.
Não se trata apenas de nostalgia pelo esplendor do "Expresso do Oriente", muito famoso na Europa do século passado, a questão está ligada às ambições ambientais da UE. Os passageiros dormem durante a viagem, por isso estes serviços tendem a ser práticos, mais baratos e com emissões de carbono muito menores do que os equivalentes de aviação.
A carta dirigida às instituições europeias vem assinada sobretudo por antigos ministros de ambiente de vários países, muitos eurodeputados da bancada Verde do parlamento europeu, mas também por membros de outros agrupamentos, dos conservadores aos socialistas. Entre os signatários há também dirigentes de associações do setor ferroviário.