
Portugal precisa de novas soluções para nos movermos

A tecnologia existe, mas é urgente começar a testar modelos e soluções que respondam às necessidades de residentes e turistas. Esta uma das conclusões do painel sobre o conceito de 'Mobility as a Service', promovido pela Deloitte Porrtugal.
Empresas de diferentes setores estão a articular-se para criar novas soluções de mobilidade que respondam às necessidades da população. Vão desde a forma de pagamento à recolha de dados que permitem otimizar serviços. A ideia esteve em cima da mesa, na tarde desta quarta-feira, no debate “Mobility as a Service” das Conversas da Mobilidade, que juntou Maria Antónia Saldanha, Country Manager da Mastercard, Paulo Santos, CEO da startup Ubirider e Ricardo Ferrão, Partner e Líder de Consulting do Setor de Transportes da Deloitte Portugal, num debate moderado por Sofia Tenreiro, Partner e Líder da Indústria de Energia, Recursos e Indústria da Deloitte Portugal.
O tema da mobilidade é premente numa altura em que metade da população mundial vive em cidades e se estima que a percentagem suba para 70 a 80% em 2050. E a isto ainda acresce o turismo – estima-se que em 2030 haja 1,8 mil milhões de turistas.
A tendência por todo o mundo é “resolver na mobilidade o que já se resolveu em todos os outros setores, permitir que as pessoas apanhem um transporte com a mesma facilidade com que pagam uma compra no supermercado”, assegura Maria Antónia Saldanha, da Mastercard, empresa que tem colaborado na obtenção de soluções em centena e meia de locais por todo o mundo.
Portugal, assegura Maria Antónia Saldanha, “está muito atrasado” e os sistemas que existem não servem os utilizadores, sejam estrangeiros ou residentes. Este, continua, “não é um tema de falta de tecnologia, de falta de soluções ou serviços, é um tema de vontade política”.
Entre as tendências que estão a surgir estão, por exemplo, o pagamento por contactless, ter um modelo de tarifário que serve não só o utilizador mas que também é mais rentável para o operador, sistemas abertos com smartphones que fazem pagamentos e fornecem dados aos operadores para tornarem os serviços mais eficientes, nomeadamente na gestão das frotas.
Na Holanda, um caso apontado por Maria Antónia Saldanha, todos os operadores de transportes do país sentaram-se à mesa com associações e entidades públicas e acordaram que, a partir de um determinado dia (há três meses), “o sistema de pagamento tradicional, usado em supermercados e farmácias, seria o mesmo a usar para o comboio, elétrico, táxis, em todo o lado”. “É um exemplo ótimo que podemos copiar”, afiançou, insistindo que “temos a tecnologia, temos as soluções, é [preciso] vontade política”.
Paulo Santos, CEO da Ubirider, startup que cria soluções tecnológicas na área da mobilidade, tem detetado vários problemas nos sistemas de transportes. Uma “grande parte dos sistemas é má porque quem manda no sistema não tem visibilidade sobre os problemas, se há paragens que não são usadas porque não estão abrigadas da chuva, etc.”, exemplificou, explicando que é preciso trazer “informação”, nomeadamente do utilizador, para tentar resolver problemas.
Uma das soluções em que está a trabalhar atualmente, explica Paulo Santos, passa pela criação de uma conta de mobilidade, que deverá substituir modelos de cartões como o Navegante ou Andante, que estão a cair em desuso. A conta de mobilidade será do utilizador, mas poderá ser usada com diferentes operadores, agregar parques de estacionamento, carregamentos elétricos, entradas em museus, etc..
A questão da mobilidade toca diferentes aspetos da vida e levanta problemas complexos, que obrigam as empresas a estabelecerem parcerias, como acontece com a Ubirider, a Deloitte e Mastercard. E o contexto atual não pode ser ignorado.
Ricardo Ferrão, Partner e Líder de Consulting do Setor de Transportes da Deloitte Portugal, alerta que há “uma recessão iminente na Europa e Estados Unidos, uma pressão social por via dessa recessão e a consciência que devemos ser mais sustentáveis e eficientes”.
A consultora, percebendo essa complexidade e também a “incerteza” que se sente no mercado, criou um grupo de trabalho que junta “cidades, infraestruturas, os grandes fabricantes e o setor de transportes”, ou seja, junta “diferentes visões e interesses e tenta encontrar modelos de negócio que justifiquem investimento nestas áreas”, explica Ricardo Ferrão. A Deloitte, acrescentou, está a “criar condições no mercado para começar a testar modelos e pô-los a funcionar”.