Renovar o parque automóvel exige plano “democrático” de incentivos

2023
27-09-2023

Para os representantes das empresas Hyundai Portugal, Renault Portugal e SIVA, é necessário que o plano de incentivos à compra de carros elétricos e o consequente abate dos veículos em fim de vida, anunciados pelo Governo, sejam suficientemente abrangentes.

Em 2035, todos os carros novos comercializados na União Europeia terão de ter “emissões zero”, ou seja, sem qualquer impacto para o ambiente. Ricardo F. Lopes, diretor de operações da Hyundai Portugal, referiu que a “aceleração do processo dependerá das políticas” aplicadas em território nacional e no resto dos países europeus. No painel “A descarbonização e a renovação do parque automóvel” das “Conversas de Mobilidade”, na sexta edição do Portugal Mobi Summit (PMS), realizado esta quarta-feira, os representantes de algumas marcas de automóveis comentaram os anúncios feitos pelo ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, na passada sexta-feira, na cimeira de Lisboa.

O diretor-geral da Renault Portugal, Ricardo Lopes, afirmou ser necessário um “plano suficientemente democrático” para a renovação do parque automóvel, que passará pelo regresso do incentivo ao abate de viaturas antigas e por apoios à compra de carros elétricos. As duas medidas foram, aliás, anunciadas pelo ministro Duarte Cordeiro, na semana passada, na PMS 2023, em Lisboa. “Teremos de esperar para ver”, acrescentou Ricardo F. Lopes da Hyundai Portugal. Ambos os representantes salientaram a dificuldade existente na compra de carros elétricos por famílias e empresas. “Ainda não é acessível a toda a gente”.

Com os novos incentivos ao abate de veículos em fim de vida poderão existir outros desafios, como a reciclagem das viaturas. Rodolfo Florit, da SIVA, afirmou ser preciso “olhar para todo o processo de fabrico” e atentar nos materiais que podem ou não ser reciclados e, posteriormente, reutilizados. “Temos de estar preparados”, acrescentou. O processo “não será simples”, disse, já que terá de haver sempre uma avaliação. Como por exemplo, das baterias, que podem ou não ser reutilizadas.

Facilitar o acesso

As regras europeias que ditam as novas realidades para a mobilidade do futuro, como os carros com “emissões zero”, não assustam os representantes das marcas. Os três afirmaram que as respetivas empresas já têm viaturas comercializadas com maior eficiência e menor impacto para a saúde do planeta. E, no futuro, irão cumprir com objetivo traçado pela União Europeia para 2035: viaturas com emissões nulas de CO2 para a atmosfera. “Não é uma imposição, é uma convicção”, justificou Ricardo Lopes.

O diretor-geral da Renault defende, no entanto, uma maior disciplina na importação de veículos, que têm em média “sete anos”. Ou seja, já são mais poluentes e menos eficientes dos que estão agora a ser lançados no mercado. Além disso, Ricardo Lopes acredita que “a fiscalidade em Portugal ainda penaliza os carros híbridos”, em comparação com outros países europeus. Já o diretor de operações da Hyundai Portugal refere que, caso não se facilite o acesso a carros mais eficientes, seja através da aquisição de viaturas ou de infraestruturas de abastecimento, corre-se o risco de se ficar com um “parque automóvel mais velho e poluente”.

Hidrogénio é um "investimento pesado"

Sobre os carros movidos a hidrogénio, a cautela já é maior. “É uma discussão que estamos a ter no setor”, referiu Rodolfo Florit, diretor-geral da SIVA. Porém, o representante atenta que “qualquer decisão sobre uma nova tecnologia exige milhares de milhões de euros para as marcas”. Também Ricardo F. Lopes da Hyundai Portugal reforçou que se trata de “investimento pesado”, dependente de uma “vontade política”. “Não temos o mesmo desenvolvimento no hidrogénio como nos carros elétricos. Requer um plano bastante ambicioso na rede de abastecimento”, salientou.

Uma opinião semelhante tem Ricardo Lopes da Renault Portugal. “O grande desafio são as infraestruturas de abastecimento de hidrogénio. Só faz sentido instalar oferta de hidrogénio se os utilizadores conseguirem conduzir ou abastecer”, apontou. Por enquanto, o desafio da descarbonização está lançado e a “procura pela mobilidade elétrica vai continuar a crescer”, acrescentou. Os carros elétricos com preços mais acessíveis dependem, disse o representante da Renault Portugal, de vários fatores como os “incentivos e a fiscalidade” e não apenas das marcas de automóveis.  

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