Revolução nos carros elétricos em 2027

2023
20-07-2023

A Toyota anunciou que vai produzir em 2027 uma nova bateria de estado sólido, com autonomia de pelo menos 1200 quilómetros.

As invenções do último século foram geralmente adotadas pelo público a partir de um certo momento em que se verificou a sua utilidade, facilidade de uso e preço adequado. Primeiro, havia desconfiança, mas então surgia uma inovação que levava a tecnologia a uma evidente maturidade. Foi assim com os telefones, computadores portáteis e câmaras digitais. 2027 poderá ser o ano de viragem para os carros elétricos: a Toyota vai introduzir no mercado uma bateria inovadora que permitirá viajar bem mais do que mil quilómetros com um único carregamento.

No que respeita aos carros elétricos, há anúncios de resultados práticos em cada semana, mas o mais recente comunicado da Toyota promete revolucionar a indústria. O construtor de automóveis japonês diz que resolveu os problemas de fabrico da bateria de estado sólido. Sabia-se que a Toyota (entre outras companhias) preparava a introdução deste produto, mas surge pela primeira vez um calendário: a partir de 2027 ou 2028, será massificada a produção e introduzida uma nova gama de carros elétricos. Até lá, em 2025, teremos um híbrido com uma bateria de primeira geração muito melhorada.

A bateria de estado sólido, como o nome indica, muda os eletrólitos líquidos para materiais sólidos, mas continua a ser necessário lítio e fósforo para produzir eletricidade. As vantagens são imensas: maior densidade de energia, carregamento mais rápido, segurança contra incêndio e ciclos longos. Os veículos podem viajar 1200 quilómetros sem novo carregamento, serão mais leves, vão durar mais tempo e as baterias deixam de ser inflamáveis. É triplicada a autonomia e só esta vantagem era suficiente para massificar, reduzir os preços de fabrico e convencer definitivamente a opinião pública de que este é o futuro.

A questão central
O anúncio da Toyota de que vai introduzir baterias de estado sólido dentro de quatro anos teve um efeito mágico no preço das ações da empresa japonesa, que subiram 5%. O construtor garantiu ter ultrapassado problemas (conhecidos) na resistência dos materiais usados em baterias de estado sólido, mas a maior vantagem, do ponto de vista dos investidores, tem a ver com a nova autonomia, que acaba com todas as reticências dos consumidores e coloca a concorrência em desvantagem.

As futuras baterias podem ser totalmente carregadas em apenas dez minutos, diz a empresa, que não adiantou pormenores sobre o custo final dos veículos, as necessidades de investimento ou a localização de eventuais novas fábricas. Sabe-se apenas que está a ser desenvolvida uma nova plataforma que permitirá reduzir os custos de todos os modelos, os quais serão menos complexos, com base em inovações de fabrico introduzidas pela Tesla. Em 2030, metade dos carros elétricos da Toyota devem ter esta tecnologia, mas a empresa vai continuar a fabricar outros tipos de automóveis, entre híbridos e veículos com células de hidrogénio.

No que respeita à adoção a 100% das tecnologias limpas, a Toyota parece ser uma empresa conservadora, uma das raras marcas importantes que menciona a intenção de produzir outros tipos de automóveis, exceto na sua marca de luxo, Lexus, que será totalmente elétrica em 2035.

A ser conseguida, a autonomia de 1200 quilómetros torna obsoleto qualquer veículo com motor de combustão, mas a Toyota está já a falar na segunda geração de baterias de estado sólido. Esta será capaz, em princípio, de atingir uma autonomia de 1400 quilómetros. O potencial revolucionário do produto é evidente: maior densidade de energia implica que a longevidade dos veículos aumenta e o peso diminui. Em comparação com os veículos elétricos de hoje, triplica a distância média percorrida com um único carregamento.

Se conquistar a opinião pública, a indústria automóvel do futuro terá ainda de resolver dois problemas: por um lado, a infraestrutura de carregamento não é uniforme e tem falta de postos; a segunda incerteza é a possível escassez de matérias-primas. O acesso fácil a fontes de lítio refinado parece ser essencial para estas ambições.

Luís Naves

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