
Rua da Prata adere à mobilidade suave e só vai aceitar peões, bicicletas e elétricos

Em entrevista, o vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Filipe Anacoreta Correia, anunciou que a Rua da Prata será uma via de mobilidade lenta e falou das ambições de Lisboa na expansão de ciclovias. Também criticou as políticas de polarização que "não permitem equilíbrios"
A Rua da Prata poderá em breve ser transformada numa via de mobilidade suave, apenas com circulação de bicicletas, peões e elétricos. A transformação está prevista para novembro, dependendo do fim das obras que ali decorrem e que têm impedido a circulação do trânsito. O anúncio da ideia foi feito hoje, nesta artéria da Baixa lisboeta, pelo vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Filipe Anacoreta Correia, durante a apresentação do projeto BICI. Na ocasião, foi aberta uma pequena ciclovia experimental que, caso seja bem-sucedida, permitirá a ligação definitiva ao rio Tejo a partir das ciclovias que percorrem o interior da cidade (até ao Marquês de Pombal).
Em entrevista exclusiva ao Global Media Group, o vice-presidente da CML procurou explicar a complexidade da criação de uma rede de vias para bicicletas, a conciliação de todos os interesses e a necessidade de abordagens em rede. "Temos de arbitrar a utilização do espaço público pela comunidade e há uma crescente procura da mobilidade suave", ou seja, mais lenta do que a do trânsito de automóveis, explicou o autarca.
Em relação à nova infraestrutura experimental, pretende-se uma ligação com a Avenida da Liberdade, para chegar à Rua da Prata e ao rio: "Com o retomar dos sentidos contínuos nas laterais da Avenida da Liberdade, criámos condições para essas vias serem cicláveis", disse Anacoreta Correia. "Antes, os caminhos não eram contínuos e a ciclovia terminava no Marquês de Pombal, sem aceder à zona baixa da cidade".
Para Filipe Anacoreta Correia, "o uso do carro faz parte da liberdade das pessoas" e a melhoria dos comportamentos não pode ser feita com agendas polarizadoras. "Procuramos soluções de compromisso. Não somos nem pró nem contra carros ou bicicletas". No entanto, conciliar as diferentes sensibilidades nem sempre é fácil, reconheceu o vice-presidente da CML: "A população de Lisboa está envelhecida e tem problemas de locomoção e de acessibilidade pedonal, temos de ter essa circunstância presente na nossa preocupação de criar respostas de mobilidade na cidade. É difícil encontrar as melhores soluções, sobretudo quando o espaço público é escasso. O nosso propósito não é favorecer ciclovias contra as pessoas idosas ou ser contra as ciclovias para favorecer os idosos. Aqui, na Rua da Prata, temos uma oportunidade de mobilidade suave favorecendo o comércio local".
O autarca disse ter encontrado abertura da parte dos comerciantes e associações às alterações previstas. "O nosso papel enquanto líderes políticos é demonstrar que algumas mudanças podem servir aqueles que estão na condução económica e associativa da cidade. Aqui ao lado, na Rua Augusta, ninguém questiona [não haver carros a circular] e é um sucesso comercial. Portanto, repensar a mobilidade pode ser uma aposta na revitalização do comércio, é isso que pretendemos".
Nesta entrevista, Filipe Anacoreta Correia também falou do caso das trotinetas, que algumas cidades da Europa (nomeadamente Paris) estão a ser contestadas, por utilização caótica ou insegura. "Quando temos políticas de polarização, acabamos por não encontrar equilíbrios", disse o autarca. "No caso das trotinetas, quando chegámos [ao Executivo camarário] a situação era caótica, não havia regras. Chamámos os operadores e procurámos encontrar um conjunto de regras. Já conseguimos isso e está melhor. Conseguimos melhorar o estacionamento, limitar a velocidade e o número de trotinetas existentes. É importante que os operadores também percebam que não podem ter atividade económica contra as cidades. Soluções que agridem as cidades vão virar-se contra eles. Isso passa-se também com os ativistas que, às vezes, procuram defender a sua posição contra a cidade. Temos de introduzir mudanças com a cidade", concluiu Anacoreta Correia.
A nova ciclovia está ainda em teste e tem um piso pouco apropriado à circulação de veículos lentos, mas se a experiência resultar, o pavimento será alterado. A promessa foi feita em público pelo vice-presidente da autarquia, durante a cerimónia de apresentação do projeto BICI (Bloomberg Initiative for Cycling Infrastruture). Trata-se de um financiamento de 400 mil euros (ao qual a câmara adiciona dois milhões) que visa melhorar a rede de ciclovias. Lisboa candidatou-se ao financiamento da Bloomberg e foi uma das dez cidades contempladas, em 274 candidaturas de mais de 70 países.
A ideia que permitiu o êxito da candidatura lisboeta consiste em reforçar os percursos para bicicletas entre escolas, criando uma rede que facilite o acesso dos estudantes.
Luís Naves
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