
Setor automóvel acelera luta pela gama de elétricos baratos

Os fabricantes de carros elétricos estão a envolver-se numa corrida contra o tempo para a comercialização de modelos com preço abaixo de 20 mil euros. A redução de custos e a concorrência chinesa são osbstáculos difíceis para as marcas europeias, mas o objetivo deve ser atingido em 2026.
A Renault anunciou que vai produzir em 2026 um carro elétrico com preço de 20 mil euros e escolheu para o protótipo o seu popular modelo Twingo, que teve grande sucesso nos anos 90 do século passado. Este veículo pretende rivalizar com marcas chinesas e europeias que anunciaram os seus próprios modelos de carro elétrico barato, por exemplo o Citroen C3, da Stellantis, que será comercializado abaixo de 20 mil euros em 2025.
A redução do custo das baterias permite que as marcas automóveis se envolvam numa corrida ao carro elétrico barato e o preço ideal parece ser este valor de 20 mil euros, mas o objetivo de um carro elétrico a esse preço pode não ser fácil de atingir sem corroer as margens de lucro.
O futuro Twingo foi apresentado pelo próprio diretor-geral da Renault, Luca de Meo, na divulgação da estratégia da Ampere, a filial do grupo francês para o setor elétrico. Esta nova empresa deve entrar na Bolsa em 2024 e terá receita de pelo menos 10 mil milhões de euros já em 2025. Há obstáculos, sobretudo a competição chinesa e o recente abrandamento nas vendas de carros elétricos. Os planos da empresa confrontam-se também com custos elevados de energia e de matérias-primas.
A intenção é chegar a 25 mil milhões de receitas em 2031, com sete modelos, e a produção deve então atingir um milhão de veículos. Até lá, a Ampere vai relançar outros modelos populares da Renault, como R5 ou a 4L. No modelo de financiamento, a marca garante que será possível adquirir o novo modelo com uma mensalidade de 100 euros. Segundo De Meo, citado por Le Figaro, o novo Twingo será um carro sofisticado e acessível. O dirigente reconheceu que está a ser difícil criar uma gama mais barata sem perder dinheiro, mas garantiu que a Renault será 100% elétrica em 2030.
Baterias mais baratas
No fundo, tudo dependerá das baterias. Estas ainda representam o maior custo de um carro elétrico, tipicamente entre 20% e 25% do preço final. O custo por energia é medido em kWh (quilowatts-hora) e a indústria conseguiu enormes reduções na última década, de 1200 dólares por kWh em 2010 para um valor médio mundial a rondar 150 dólares no ano passado. O facto é que este setor esteve em grande mudança nos últimos dez meses, primeiro a subir devido aos preços das matérias-primas, depois em queda, por causa do excesso de produção na China.
A indústria automóvel costuma citar o objetivo de 100 dólares por kWh como a meta a partir da qual será possível produzir veículos baratos. No início do ano, pensava-se que este valor só seria atingido em 2026, mas têm sido publicadas notícias que referem a possibilidade da média ser inferior a 100 dólares já em 2024. Estes preços até estarão a ser batidos na China.
Apesar de tudo, esta semana soube-se de uma evolução desfavorável para o setor elétrico. O Grupo Volkswagen anunciou o adiamento de uma decisão sobre uma nova fábrica, alegando perspetivas menos risonhas sobre as futuras vendas. Estas continuam a bater recordes (quase 50% este ano, face ao mesmo período de 2022), mas os fabricantes dizem que o ritmo desacelerou. A expansão das vendas de novos carros elétricos deve reduzir-se em 2024 e há quem fale na possibilidade de uma estagnação no mercado.
Não parece haver uma boa explicação, pode ser reação ao abrandamento da economia europeia, mas também prudência dos consumidores. Perante a possibilidade de carros mais baratos, as pessoas adiam a sua decisão de compra. Com tanta informação sobre financiamento acessível, reduções de preços e baterias mais avançadas, os europeus não parecem ter pressa. Isto pode justificar a decisão da VW de adiar a sua quarta fábrica de baterias. De qualquer forma, o grupo alemão mantém os seus planos para construir seis grandes unidades (as chamadas Gigafábricas) até 2030.
O grupo alemão considera que os consumidores não estão convencidos sobre a tecnologia, sobretudo devido à infraestrutura de carregamento. Por isso, o presidente executivo da VW, Oliver Blume, disse esta semana que a companhia ainda não tomou uma decisão definitiva sobre a produção de um carro elétrico de 20 mil euros, mas que essa meta deve ser concretizada na segunda metade da década. A única forma de o conseguir será reduzir os custos das baterias, acrescentou o industrial. A Volkswagen terá um modelo de 25 mil euros já em 2025, com autonomia de 450 quilómetros e carregamento até 80% em 20 minutos.
Luís Naves