
Trocar avião por comboio em viagens de trabalho reduz emissões em 90%

Substituir o avião pelo comboio nas viagens de trabalho tem um impacto relevante, mas só há sete empresas com planos ambiciosos nesta área, segundo a T&E. Ao mesmo tempo, ex-ministros pedem a Bruxelas para incentivar uma rede ferroviária com comboios noturnos e recuperar a atratividade perdida para os aviões.
As viagens de trabalho representam entre 15% a 20% do tráfego aéreo global, que continua em franca expansão. No espaço europeu, as deslocações laborais por avião continuam a ser muito comuns, apesar de existirem ligações ferroviárias entre algumas capitais da UE. Há inegáveis ganhos de tempo face à alternativa ferroviária, mas a pegada carbónica destas viagens aéreas regulares tem consequências que já não podem continuar a ser subestimadas numa era de emergência climática. Sobretudo quando escasseia o tempo para impedir o aquecimento da temperatura do Planeta em mais de 1,5 graus.
Um novo estudo da organização ambientalista Transport & Environment indica que trocar o avião pelo comboio em algumas rotas de grande procura, como Londres-Amesterdão, resultaria numa redução de 93% das emissões de gases com efeito de estufa. Mas os dados do mesmo estudo também revelam serem muito poucas as companhias a integrar o comboio na sua política de viagens.
Se o fizessem, o ambiente poderia ser bem diferente. De acordo com aquela análise, a redução de emissões seria da ordem dos 88% numa viagem Madrid-Londres, 86% no caso de Paris-Roma, 97% numa viagem Paris-Nice ou 79% entre Frankfurt e Berlim. Já entre Nova Iorque e Washington a redução de emissões de co2 alcançaria os 92%, se a deslocação fosse por via férrea em vez de aérea. São exemplos que espelham o impacto dramático que a simples escolha do meio de transporte pode ter no clima.
Carta aberta para uma rede europeia
É neste contexto que um conjunto de personalidades destacadas da política e da indústria lançaram uma carta aberta à Comissão Europeia, na qual apelam a uma união de esforços entre os Estados-membros para incentivar o investimento no transporte ferroviário transfronteiriço com vista à criação de uma rede europeia. Na missiva, os signatários – onde se incluem vários ex-ministros do Ambiente e eurodeputados - defendem, muito em particular, o investimento nos comboios noturnos e a sua adaptação para vagons-cama, de modo a permitir um aumento do seu uso em viagens turísticas ou de trabalho. A ideia é resolver os problemas de ligações técnicas e burocráticas que existem entre vários países e tornar o comboio um meio de transporte mais atrativo. Os planos de Bruxelas anunciados há dois anos para este setor já preveem duplicar a circulação de comboios de alta velocidade na UE até 2030.
Outro ponto a combater é a disparidade de preços face aos aviões que, na última década se tornaram, em muitos casos, mais baratos do que os comboios. Um estudo recente da Greenpeace analisou mais de 100 ligações europeias e apurou que as viagens de comboio custam em média o dobro das de avião.
Mas, de acordo com especialistas e ambientalistas, não são os comboios que são caros, mas os aviões que não são suficientemente caros, nomeadamente porque não são taxados do mesmo modo. As organizações ambientalistas têm reclamado, aliás, a aplicação de taxas e impostos de poluição à aviação, sustentando que os Estados membros perdem todos os anos somas astronómicas por não o fazerem. Ao mesmo tempo abdicam de verbas para investir no reforço da ferrovia e da sustentabilidade dos transportes, consideram.
Sete empresas com políticas ambiciosas para o comboio
Várias corporações integraram já nas suas políticas a preocupação em baixar da sua pegada carbónica, mas tardam em fazer esta pequena revolução. A transição das viagens de trabalho para o comboio seria uma das maneiras mais eficazes e simples de atingir as metas de sustentabilidade, considera a T&E. Mas constata que só muito poucas empresas estão a promover essa mudança junto dos seus trabalhadores.
Segundo um inquérito levado a cabo no âmbito daTravel Smart Campaign junto de 322 empresas para reunir informação sobre as políticas de viagens, das que responderam, só 28 criaram regras para transferir as viagens profissionais do avião para o comboio. A análise revela que esmagadora maioria (294) ou não têm estratégia ou não foram identificadas como tendo políticas específicas para fazer esta transição.
Entre as empresas que responderam ao inquérito, a Travel Smart Campaign identificou sete companhias com políticas ambiciosas para o transporte ferroviário: Swiss Re, Steelcase, ABN Amro, Mapfre, Publicis Group, Ante Group e Simon Kucher.
Nesta matéria, o manual de procedimentos daquelas empresas passa por medidas como fixar um orçamento para viagens climáticas para a companhia e por departamento; definir uma meta para converter uma percentagem de viagens de avião para comboio e estipular que o comboio é o meio preferencial de transporte sempre que a distância em quilómetros ou horas for inferior a um determinado valor. Outras medidas podem igualmente passar por oferecer um maior orçamento aos funcionários para marcarem viagens em primeira classe e ser-lhes permitido o teletrabalho no comboio durante viagens pessoais.
Carla Aguiar