
U.S. Air Force investe 230 milhões em avião que poupa 50% em combustível

A aeronave começará os testes de voo em 2027 e será desenvolvida pela JetZero, que garante aumentos dramáticos na eficiência e a possibilidade de reconversão para hidrogénio. Para a Força Aérea dos EUA é uma lança a marcar vantagens ambientais e militares face à China.
A Força Aérea dos Estados Unidos vai investir 230 milhões de dólares no desenvolvimento de um avião de design inovador capaz de reduzir a resistência aerodinâmica, aumentar a elevação, e poupar assim entre 30% a 50% de combustível. O anúncio foi feito este mês pelo Secretário da U.S. Air Force, Frank Kendall, e é um sinal de que, perante a crise climática, as regras de descarbonização impostas ao setor e o imparável aumento dos custos dos combustíveis, a aviação vai mesmo ter de mudar de rota.
Para a ambiciosa missão foi escolhida a startup aeroespacial JetZero que vai construir um protótipo de aeronave de corpo e asa combinado (blended wing body- BWB), em que as asas se fundem com o tubo principal e não dobram. O avião será montado até 2026 e os testes de voo deverão começar em 2027. “Este é um projeto de protótipo/demonstração e visa acelerar a próxima geração de aeronaves de grande porte que a U.S. Air Force precisará no futuro”, disse Kendall, na apresentação do projeto. “Existe um potencial real nesta tecnologia para melhorar significativamente a eficiência do combustível. Isso levará a ganhos não apenas na eficiência e capacidade da nossa força, mas também no nosso impacto no clima.” É que, segundo a JetZero, a aeronave poderá também adaptar-se a combustíveis mais sustentáveis, como o hidrogénio, que é apontado como a próxima geração de combustível para a aviação até 2050.
Por outro lado, o programa também visa reforçar a base industrial de defesa e “manter a nossa vantagem sobre a China”, admitiu aquele alto responsável do administração norte-americana. E, acrescentou, “há muito interesse comercial nesta tecnologia”.
A U.S. Air Force refere que a meta é alcançar 30% de economia de combustível em relação a um transporte de corpo e asa de tamanho comparável, embora o site da JetZero sugira que a poupança pode chegar a 50%. O cofundador da JetZero, Tom O’Leary, afirmou numa entrevista que o financiamento para o projeto equivale a 40 milhões de dólares da Air Force já em 2024 e que os investidores privados estão a montar uma quantia equivalente. A ideia é manter esse nível durante os próximos cinco anos, durante os quais a Air Force prevê investir 230 milhões. O’Leary disse que as companhias aéreas privadas têm manifestado um forte interesse.
A “maior eficiência da aeronave permitirá maior alcance, mais tempo de sobrevoo e maior eficiência de entrega de carga útil, capacidades que são vitais para mitigar os riscos logísticos”, disse a Air Force, em comunicado.
Segundo a Air &Space Forces Magazine, o conceito BWB não é novo: a Força Aérea fez várias experiências com este tipo de asas ao longo dos tempos, a última das quais entre 2007 e 2013.Questionado sobre por que demorou tanto para o BWB ser levado a sério pela Força Aérea e se tornar um programa protótipo, o co-fundador da JetZero, Tom O'Leary, disse que foi “o custo do combustível”, que deu ao programa “um sentido de urgência”, bem como os efeitos do aquecimento global, que “não podem mais ser ignorados”.
Por seu lado, a Air Force sustenta que o timming se deve ao facto de o conceito estar agora numa fase mais madura, graças aos “avanços tecnológicos mais recentes em design estrutural, tecnologia de materiais, fabrico e outras áreas tornaram possível a produção em grande escala”.
A empresa espera que a tecnologia também tenha aplicação na indústria comercial, com benefícios para as companhias de passageiros e de carga aérea, como o aumento do espaço interior e a redução dos custos de combustível. E antecipa que, numa versão comercial, a aeronave deverá ter asas dobráveis.
Espera-se que os motores montados no topo reduzam os obstáculos ao redor da aeronave ao nível do solo e desviem o ruído para cima e para longe dela, permitindo que uma versão comercial possa operar em rotas agora fechadas aos aviões devido ao ruído. Essa característica também terá a vantagem de reduzir a detectabilidade da aeronave em ambiente militar.
O projeto BWB será uma colaboração do Departamento da Força Aérea, da NASA, da Unidade de Inovação de Defesa e do Gabinete de Capital Estratégico do Pentágono.
Carla Aguiar