
Vêm aí os radares que apuram a velocidade média

Os radares baixam os acidentes mortais em mais de 70%, diz a ANSR. O Grupo Brisa lançou uma campanha a sensibilizar para a segurança dos trabalhadores na estrada e alerta para longos engarrafamentos com a chegada do Papa. Foram temas em foco em mais um debate PMS2023.
“Se não melhorarmos a tendência atual arriscamo-nos a chegar ao fim do ano com mais de 600 vítimas mortais nas estradas portuguesas”, igualando o trágico histórico de 2019. Quem o diz é o presidente da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), Rui Soares Ribeiro, no âmbito do terceiro debate Portugal Mobi Summit, que contou também com a participação de Manuel Melo Ramos, administrador executivo do Grupo Brisa e de David Fernandes, do Centro de Medicina e Reabilitação de Alcoitão.
A evolução da sinistralidade em Portugal está longe de ser linear e ganha outros contornos à medida que novos meios de mobilidade convivem no espaço urbano, com destaque para as bicicletas, trotinetes e mais motociclos de entregas rápidas. Se é verdade que entre 2010 e 2014 houve uma diminuição dos acidentes, entre 2015 e 2019, pelo contrário, deu-se um agravamento, revelou o presidente da ANSR.
Em termos estatísticos, o quadro é claro: 41% das mortes ocorrem em meio urbano, sendo que 19% em pequenas localidades atravessadas por estradas e, ao contrário do que se possa pensar, só 9% dos acidentes mortais acontecem em autoestrada, esclareceu.
Mas a clareza e a frieza dos números não resolve nada por si só. É preciso fazer mais, quer em termos de prevenção, informação e regulamentos municipais de gestão da velocidade, quer em métodos pedagógicos mais incisivos, como a aposta nos radares, e muito em particular, nos que captam a velocidade média, considerou Rui Soares Ribeiro.
O presidente da ANSR anunciou, a propósito, que estes radares vão estar operacionais nas estradas portuguesas numa data próxima, a ser amplamente divulgada. São equipamentos que, ao contrário dos instantâneos - que só aferem a velocidade junto ao radar – indicam a velocidade média num determinado troço, visando assim um controlo mais efetivo. “O condutor que ultrapassar a velocidade média permitida por lei estará em infração”, precisou.
O responsável rejeita liminarmente a associação à ideia de “caça à multa”, na medida em que as estatísticas indicam que eles induzem ganhos significativos: menos 36% de acidentes, menos 40% de feridos graves e menos 74% de vítimas mortais. “É inequívoco que os radares salvam vidas”. Embora ainda não se saiba como e onde vão funcionar, Rui Soares Ribeiro está convencido que “vai ser importante e terá um impacto grande”.
Esse é apenas um dos passos da estragégia Nacional da Segurança Rodoviária para depois de 2030, que visa reduzir as mortes na estrada para zero até 2050. É uma meta ambiciosa, é certo, mas em causa está poupar qualquer coisa como 2250 vidas e 7600 feridos graves, lembrou aquele dirigente.
Brisa contra “invisibilidade” dos trabalhadores
A pedagogia para aumentar a segurança rodoviária é também a aposta do Grupo Brisa, enquanto concessionária de autoestradas. O seu administrador executivo, Manuel Melo Ramos, anunciou que está curso uma campanha para sensibilizar os condutores a respeitar os trabalhadores que estão na autoestrada, sejam os da manutenção, dos bombeiros, da GNR e PSP ou do INEM. “È um esforço conjunto dos concessionários e daquelas entidades, para consciencializar, pois verifica-se que quando há trabalhos e intervenções na estrada, a maioria dos condutores não abranda a velocidade, pondo em risco a vida dos que ali estão ao serviço de outros”, explica aquele que é também o presidente da Associação Portuguesa de Concessionários de Autoestradas. “Somos invisíveis?” é, por isso mesmo, o mote da campanha com a qual os condutores vão ser confrontados em algumas estações de serviço, onde estarão também viaturas acidentadas reais, com o propósito de causar impacto e de inspirar mudanças comportamentais, assumiu Manuel Melo Ramos.
O efeito das Jornadas da Juventude
Porque Portugal e Lisboa, em particular, está a dias de celebrar um evento ímpar com as Jornadas Mundiais de Juventude, o Grupo Brisa ligou todos os motores para estar em prontidão. “Temos um reforço significativo das equipas em mais de 300 pessoas” para que tudo esteja operacional, tanto ao nível das portagens, como da manutenção e equipamento ou obra civil, disse o seu administrador executivo.
O responsável da concessionária alerta, a propósito, para a mais que provável ocorrência de engarrafamentos, longas filas de espera nos dias das jornadas, aconselhando, por isso, os condutores a um melhor planeamento quer do abastecimento das viaturas, quer da disponibilidade de água, alimentos e medicamentos durante as viagens. “Outra recomendação importante é para nunca sairem do carro, mesmo que trânsito pareça parado”.
Na mesma linha, o presidente da ANSR lembra que, nestes dias, os potenciais problemas envolvem tanto carros como peões, mais concretamente peregrinos a caminho de Fátima. E os conselhos são os de sempre: circular devagar, não olhar para o telemóvel, não beber álcool, andar em fila e no sentido contrário ao trânsito.
O incumprimento destas regras de segurança tem efeitos secundários que David Fernandes conhece bem enquanto fisioterapeuta no Centro de Medicina e Reabilitação de Alcoitão, que recebe 4.500 pacients por ano, embora só 6% com lesões traumáticas. E, ao que tudo indica, haverá um acréscimo de sequelas resultante também do incremento do uso das bicicletas e das trotinetes. “Já tivemos alguns casos de traumatismos graves no encéfalo, com sequelas que perduram no tempo e causam deficiência motora”, que talvez pudessem ser evitadas com o uso de capacete, disse aquele fisioterapeuta. E também considerou que o uso de telemóvel a conduzir ou a caminhar é um mal a abater.
Zonas de 20km/h
Nos centros urbanos, uma das apostas dos municípios para reduzir os acidentes mortais é a criação de zonas de velocidade controlada, normalmente a 30 km/h. Mas a cidade do Porto foi mais longe e vai impor um limite de 20 km/h em dez ruas, o que está previsto na legislação há dois anos. “São as chamadas zonas de coexistência, onde bricam crianças, circulam idosos, bicicletas e carros”, explica o presidente da ANSR. “Deveriam antes chamar-se zonas de velocidade de segurança”, diz, em que a estrada é auto-explicativa, com sinais e lombas para induzir outro tipo de comportamento, onde o carro é apenas permitido, não a personagem principal. Porquê? “Porque, em média, se alguém for atropelado a 30 km/h, uma em cada dez pessoas morre; se for a 50km/h, oito em cada dez pessoas morrem. Ora baixar para 20 Km reduz substancialmente as probabilidades”, refere aquele responsável.
Este esforço é para continuar porque os números de Portugal nesta matéria são dramáticos: 41% das mortes são em meio urbano, mais de 60% dos peões são atropelados na passadeira e cerca de 25% dos condutores não cedem a passagem aos peões, diz Rui Soares Ribeiro.
Nem sempre os atropelamentos são culpa dos condutores. O vício do telemóvel e do uso de headphones enquanto se caminha também têm tido a sua quota parte de responsabilidade. Tanto assim que “há países que vão considerar infração atravessar a passadeira ao telemóvel e com auscultadores nos ouvidos”. O presidente da ANSR considera que a autoproteção não é uma obrigação do Estado, mas sim dos próprios cidadãos.
Uma opinião partilhada pelo fisioterapeuta David Fernandes: “a mais pequena distração pode acarretar sequelas graves, amputações e cadeiras de rodas para sempre. É melhor apelar ao bom senso do que criar leis para as pessoas terem cuidado com elas próprias”.
Do lado do Grupo Brisa, a empresa subscreveu o objetivo de zero mortes na estrada até 2050 e, por isso, Manuel Melo Ramos considera que “o uso de radares como forma de ajudar a salvar vidas humanas justifica-se plenamente”.
(Saiba tudo sobre o Portugal Mobi Summit em www.portugalms.com)
Carla Aguiar